JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA (12º Poeta Convidado)


















JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA
(30-06-1920, Rodelas, BA - †22-01-2016, Salvador, BA)

A admiração, o aplauso e a saudade eterna do
Blogue Expressão Mulher-EM


CURRÍCULO
João Justiniano da Fonseca
19-05-08, 4 h da manhã.

Rodelas, na Bahia. Velho Chico.
Ilha, canoa, cana, rapadura.
Fazenda na caatinga, boi e vaca.
A escola de Dulcina. O tempo rola.

Nonô, Cambaigá. Tempo de novo.
A fábrica. O Exército. Concurso.
Primeiro emprego. Casamento. Filhos.

Crescendo devagar. Segundo emprego,
terceiro e quarto. Uns versos mal traçados.
Porção de livros sem leitor. Encalhe.

Perto do céu. Pertinho, bem pertinho...
Glorioso São Pedro! Enfim o porto!
De mim não fica nada. Nem eu levo.


(Do e-book "A Vida do Poeta - Sonetos")






SAUDAÇÃO A RODELAS
João Justiniano da Fonseca
07.04.63

Minha terra é cidade. Eu salvo minha terra,
nesse dia feliz, inesquecível, grande.
Humilde, pobre, amiga, a minha gente encerra
fortuna, no labor que em progresso se expande.

Tem o rio, a caatinga, as vazantes e a serra,
rapadura, batata... E cebola da grande.
A lei da honra ainda é lei em minha terra,
o rico e o pobre iguais – quem mande e quem não mande.

Terra onde tudo é meu e eu sou como se fosse
eternamente em tudo – eternamente em todos,
fora de um mundo mau de encenações e engodos.

Aqui, São João Batista em graças transmudou-se
e a grandeza infinita é a bondade do povo.
Ah se eu nasço outra vez! Seria aqui de novo...

(Do e-book "Sonetos de Amor e Passatempo")



O MEU POVO MORREU
João Justiniano da Fonseca
28.11.91

Eis minha terra! Um lago, não o rio agora...
Pudesse ser o sol suspenso sobre o lago,
para esgotar a água ou bebê-la de um trago,
e então, beijar a terra onde a saudade mora...

Eis minha pobre gente! O que ontem era afago
de amigo, se trocou na infâmia, foi-se embora
a vontade de ser. A fé mofa e bolora.
O meu povo morreu, quando nascia o lago...

Seu féretro não vi, não sei do seu jazigo,
pois também eu morri no meu conceito antigo,
outro nasci, sou outro em nova realidade.

Fujo a tudo que foi e espero o julgamento,
que este virá depois, n'algum frio momento
de passado esmaecido ante a posteridade...

(Do e-book "Sonetos de Amor e Passatempo")



Os 1001 Amores de João Justiniano da Fonseca




MINHA MÃE
João Justiniano da Fonseca

Que será que faz agora
Minha mãe, velha e cansada?
Chora e reza, reza e chora.
De saudade quebrantada.

Quando era moça a esta hora,
Vida amarga e agoniada.
Com sete filhos à escora,
Trabalhar sem ter parada.

Horas e horas sem tréguas,
Na distância de mil léguas,
Agora é só recordar.

Morto o esposo, longe os filhos,
Foram glórias e brilhos,
Resta chorar e rezar.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




ANJO AMOR
João Justiniano da Fonseca
19.04.09

Mãe, anjo de amor salpica,
Os meus caminhos de rosas.
As mais frescas, mais viçosas,
Da cor vermelha, a mais rica!

Caminha ao meu lado e fica
Sem que eu perceba as passadas,
Mais salpicando as estradas
De rosas. E as purifica.

Anjo de amor e bondade
Que lacra minha saudade
Das lembranças mais felizes.

Em breve estarei contigo
No mesmo e eterno jazigo
Que abriga nossas raízes.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




ORAÇÃO FILIAL
João Justiniano da Fonseca

Pai,
morreste?
Não!
Estás vivendo em nós,
– em cada um de nós, filhos e netos:
Em nossa carne, que é a tua própria carne.
Em nossa vida, que é a tua própria vida.
Hás de viver feliz, sorrindo em nós,
em nós cantando as nossas canções de amor
e de saudade.
E chorarás também, quando chorarmos.
Sorrirás,
Cantarás,
chorarás
nos filhos dos nossos filhos
que serão o teu sangue.
Por estes, levarás teu nome,
aos pósteros dos pósteros,
séculos e séculos.
Por eles viverás continuamente,
eternizando a espécie.

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")





"MÃE ROSA"
João Justiniano da Fonseca 

A Mãe Rosa dormiu. Quem abre agora,
a casa grande onde a gente sonhou?
Quem arma a rede, quem arruma a cama
e oferece o café de manhãzinha? 

Esse tempo que andou, sem que ninguém
houvesse percebido o seu roer
de rosto, ouvido e vista, de cabelos,
levou meu pai e minha mãe, meu filho. 

Agora, fecha a casa onde eu podia 
amar o meu passado e ter Mãe Rosa
me vigiando mansinho, a solidão. 

Quem me recebe agora em minha terra,
a quem eu beijo, quem me dá conselhos,
quem diz – menino, vai dormir, que é hora!

(Do e-book “Sonhos de João”)


(*) - "Este soneto está cravado em uma placa sobre o túmulo da  homenageada. Era tudo que poderia fazer no após morte. A foto está em um painel dos meus mortos, em frente ao computador. Trabalho olhando para eles.

Uma particularidade: Mostrei o soneto logo após construído a um confrade e este após a leitura disse: soneto sem rima. Só então percebi. Havia construído com tanto amor que a rima no amor se encontra."

(João Justiniano da Fonseca, 20-05-2014)



ALMA DE MESTRA
João Justiniano da Fonseca
(Acróstico)

Deixar que os anos passem, vagarosos,
Um por um, sem amor e sem prazer.
Livros espalhar – livros dadivosos.
Civilizar selvagens. Entrever,
Inda na flor dos anos, sorridente,
Na profissão que abraça, um sonho azul!
Ao sonho dar-se, à profissão somente.

Crucificar-se ao peso do tormento,
Rir, ainda quando o peito chora o pranto.
Úmido e triste, em triste desencanto.
Zombar, enfim, do próprio sofrimento.

Lâmina de aço, penetrante, fina,
Ingratidão colher somente – ó sina!
Mas, esperar em Deus as recompensas.
Alma de mestra, quanto amor condenas.

(Do e-book "Sonhos de João")



Nota do Autor:

DULCINA CRUZ LIMA - Primeira professora de Rodelas. Trinta anos de regente, dez de delegada – quarenta de dedicação inteira. Sem um dia de licença prêmio ou outro tipo de afastamento que não fosse o correspondente às férias anuais Ao cabo de tanta dedicação, Dulcina, ferem-lhe:os cravos da ingratidão, mais pontiagudos, mais penetrantes, mais cruéis que nos primeiros tempos.




HOMENAGEM
João Justiniano da Fonseca

Ao chão submerso pelas barragens ao longo do São Francisco
e aos que o perderam sem ter a compensação material bastante a
indenizar os seus prejuízos — um sentimento de dor no coração, um
sufoco na alma, uma angústia de morte, um corte brusco no seu
destino de gente humilde e secularmente sofredora:


A BARRAGEM
João Justiniano da Fonseca

Tantos anos à margem deste rio
arfei de sol a sol, desesperado!
Plantei... Colhi... O solo, bem cuidado,
jamais deu fruto que alcançasse o estio...

Como o guerreiro que não perde o brio,
ou como o arauto que apregoa o fado,
meu pai nasceu, morreu no seu roçado,
andei os passos que meu pai seguiu.

Vem agora a barragem, tudo inunda,
e eu perco tudo — o chão, a casa oriunda
da herança honrada que deixou meu pai.

E vou... E vou... Aonde irei, meu Deus,
sepultar o meu fim, os dias meus,
e a dor enorme que o meu peito esvai.

(Do e-book "Terra Inundada, Romance")




"Amo muito este que é o meu 2º livro pelo aspecto épico-social que ele tem".
(João Justiniano da Fonseca, 19-01-2014)




(Edições impressas em 1963 e 1974)



RODELAS
João Justiniano da Fonseca

Amigo,
vem comigo
a ver minha terra.
Entremos,
aqui é Rodelas:
À frente da Igrejinha inacabada,
em seu nicho postado,
manso e despreocupado,
o velho São João Batista abençoando a gente
desde cedinho ao sol poente,
mansamente,
despreocupadamente.
E o rio descendo...
O rio cantando...
Descendo, cantando e molhando vazantes.

Bem, vindo, meu caro,
aqui é Rodelas.
A terra é modesta,
é pobre e pequena.
Não tem atrações de grande cidade;
é só fealdade,
tristeza,
humildade.
Um povo que é um mimo de pobre e de bom.
O povo que eu amo,
este povo que é meu
de sangue e coração.

Manhãs tão serenas,
que a gente desperta cedinho
somente pra vê-las.
As tardes morenas,
as tardes amenas,
são meigo convite à saudade
de coisas distantes que a gente nem sabe o que sejam.
As tardes morenas
se vão lentamente,
sorrindo pra gente
um riso saudoso
na boca da noite.

As noites desertas,
são meigo convite pra gente dormir.

Aqui é Rodelas,
Domingo é dia da feira.
Domingo, dia de fazer a barba,
de acertar contas e pagar trabalhador.
Domingo, doa de Nosso Senhor:
Descansar...
rezar...
Beber cachaça e dançar.

Aqui é Rodelas.
Novenas alegres,
quando é São João,
que é a festa da terra.
Foguetes subindo...
Fogueiras queimando...
O bumba zabumba...
O sopro do pífano...
Joguinho de rua e baile a valer.
O baile, que bom!
O baile, que bom!

E quando é a quaresma...
Cantando os penitentes
seus cantos pungentes
ao longo das noites
às quartas e sexta,
se põem a penar com as almas penadas.

Aqui é Rodelas.
Há rua de branco,
rua de preto
e rua de caboclo.
Há baile de branco
e baile de preto...
– de preto e caboclo, que em festa andam juntos.
Baile a sanfona
– rancheira e quadrilha...

E gente com fome,
de todas as cores,
gemendo na enxada, segunda até sábado.
Gente tuberculosa,
de todas as cores,
gemendo e morrendo por causa da fome.

Não fosse a vazante, não sei que seria do povo...
Coitado do povo!
Não sei que seria,
não fosse o pouquinho
que espalha nas ilhas o bom São Francisco,
descendo...
Cantando...
E molhando vazantes...

Aqui é Rodelas.
Há vacas de leite pros mais abastados.
Capim de vazante,
garapa de cana...
E batata, que é o pão do caboclo.

Meninos na rua
de dia e de noite,
correndo,
pulando,
gritando
– jogando poeira na cara da gente.

Fiandeiras no engenho,
rendeiras nos bilros,
redeiras batendo o tear
o dia inteirinho.

Manhã bem cedinho
canoas a pano rumando pras ilhas.
De pote à cabeça,
lá vão aguadeiras caminho do rio.
Pouquinho mais tarde,
cascalhos coalhados de roupas quarando.
Tardinha, as canoas velejam chegando,
ou vogam remeiros se o vento falhou.

De noite, a quietude,
silêncio profundo,
poeira na rua...
Cruzeiro,
cemitério,
assombração.
As almas do outro mundo,
o lobisomem,
o negro-dágua...
Superstição e mais superstição.

Entanto, meu caro, não cisme de entrar:
Há um povo que é um mimo de pobre e de bom;
o povo que eu amo,
este povo que é meu de sangue e coração.


II

Na singeleza dessa humilde terra,
tão pobre como Job,
alguma coisa de ideal se encerra,
de mistura com o pó:

Titânica coragem, força e amor
na senda do trabalho.
Trabalhando... Luta de formiga, ardor,
constância de frangalho.

Improdutivo desdobrar de esforço
em luta desigual.
De um lado, natureza é como corso,
tufão ou vendaval.
Do lado oposto, o sertanejo esguio,
esquelético e faminto,
de seis a seis, se há sol ou se faz frio,
reflete a sombra do extinto.

Enchendo o rio, espera que ele desça
– é a tradição dos avós.
De água carrega latas à cabeça,
rega o solo, planta após.

Ou na caatinga a dentro, cria o bode
e o vê morrer em seguida,
nas secas periódicas... – Quem pode
ser feliz com tanta lida?

A gente humilde e pobre, abandonada
na existência secular...
Ao pó, à indiferença relegada,
nem sabe os anos contar.

Já foi aldeia sede noutros tempos,
nas eras cariris.
Seu Deus já foi Tupã, teve por leis
as flechas senhoris.

Tudo passou, no entanto – hoje lhe resta
o aquecimento só.
Um pobre vilarejo... – A que se presta?-
Relegaram-no ao pó.

É a sorte trágica do ribeirinho
das nossas plagas de aquém.
Mas nem assim, esquece o borborinho
que de outras partes lhe vem.

E se nos chama a Pátria, o dever cívico
também sabemos ter.
Nas lutas pelo bem comum, equivoco.
em nós não pode haver.


III

Neste humílimo recanto
vive Flora o seu encanto,
disputando o encanto à lua.
E como é belo de ver-se
a borboleta embeber-se
no belo da imagem sua.

(Do e-book "Brados do Sertão")





LAMENTAÇÕES DO VELHO CHICO
João Justiniano da Fonseca

(Este poema vem dos idos de 70. A iniciativa empresarial
já oferece alguma coisa em termos de irrigação. Ação de
Poder Público para o pequeno agricultor nada).

"Não acharam meio
de governar
este sertão,
depois nos dizem
que a terra é pobre,
só tem areia...
Mas que provam
A irrigação!"

(Deocleciano Martins de Oliveira)

– Gritar, eu grito,
há muitos séculos,
não adianta.
Vezes reclamo,
vezes lamento.
Ninguém me ouve.
Nem o Estado,
nem a Nação.

Meio dia, sol a pino,
o suor queimando os olhos.
Verdade ou alucinação?...
Enquanto lança a tarrafa,
passa um gigante aos seus pés,
a gemer lamentações:

– De onde vens?
– Venho das Minas Gerais.
– Aonde vais?
– Sigo em procura do mar.
– Que fazes por onde passas?
– Abro a estrada
que dá acesso ao sertão.
– E que mais?
– Eu molho o chão.

Dou água, dou energia,
prosperidade ao Nordeste.
Nas terras por onde passo,
vem comigo a plantação.
Gente gemendo na enxada,
planta a terra abençoada,
de onde o suor tira o pão.
Há cana, arroz e batata,
mandioca, milho e feijão;
há jerimum, melancia,
cebola, uva e melão;
há pinha, há gergelim,
há tomate, amendoim,
lima, laranja e limão.

Agora plantam o trigo...
Podem plantar, que eu garanto
a auto-suficiência
do Brasil nestas Barrancas.

– Teu nome?
– Sou o Rio São Francisco.
Me chamam de Velho Chico.
Podes usar o apelido,
soa bem ao meu ouvido
o tratamento afetivo
que me dão os que me amam.

Nas terras por onde passo,
A cinco estados abraço,
a cinco Estados dou a mão.
Minas Gerais e Bahia
Alagoas, Pernambuco
e o pequenino Sergipe,
tudo é meu, tudo é irmão.

– Velho Chico?!
Ah! o Velho Chico meu pai!
Sou o pescador ribeirinho
que se sustenta do rio.
Não me conheces?
Sou teu filho, Velho Chico.

– Podes chama-me de pai
e podes chamar de irmão.
Contigo tenho sofrido,
contigo tenho gemido
por séculos de aflição.
O caboclo sertanejo
que me arranca das entranhas
o seu minguado sustento;
o que planta o seu roçado,
tirando duro, suado,
a sua vida do solo;
aquele que leva o barco,
vara no peito, encurvado,
gemendo ao peso das águas:
são filhos do Velho Chico
ou podem ser seus irmãos.

– Quanto tempo, Velho Chico,
gemes a nossa aflição?

– Milênios em procissão.
Primeiro, somente a terra,
somente o áspero chão.
Depois o índio selvagem,
de bodoque, de arco e flexa,
plantando na beira-rio,
ou pescando simplesmente,
rio a cima e rio abaixo.

E veio mais tarde o branco,
trazendo um negro no flanco
para o entrechoque das raças,
Houve sangue, dura lida.
E o cruzamento em seguida
pôs três povos lado a lado,
na luta da subvida.
Nasceu por fim o caboclo,
para sofrer como os pais.

– Meu Velho Chico, e as barragens?

– Veio um dia Paulo Afonso,
trouxe a CHESF e a ELETROBRÁS.
A minha força energética
já anda por nove Estados,
impulsionando o progresso
deste Nordeste sofrido.

Me chamam de o Grande Rio
da Unidade Nacional.
Mas dói ver que estas barrancas
por onde ando há milênios,
gemem comigo a aflição
de não ter nenhum proveito
da força que produzimos.

– E então?

– Vou seguindo para o mar,
a exibir, rangindo os dentes,
a minha velha carranca.
Tormentos multiplicados
vou gritando nos caminhos,
a espantar negras visagens
de passados milenares.

Há pouco foi Mocotó,
vem agora Sobradinho,
logo mais Itaparica
a inundar as minhas terras,
as cidades de meu povo.
Vão usar a minha fibra,
produzir mais energia,
erguer torres, puxar fios,
para que a indústria mais cresça
por terras sempre mais longes.

– E os que são prejudicados?

– O meu barranco oferece,
sem ter jamais recompensa.
Tiram meus filhos da terra,
empurram para as distâncias.
Por compensar os que ficam,
podem lhes dar umas lâmpadas...
E não sei mais que darão!

– E a irrigação!

– Não fales de irrigação,
que já não creio mais nisso.
As águas dessas barragens
que engolem os nossos filhos,
já disse a CHESF – só chegam
para mover as turbinas,
não sobra um pouco que possa
nos servir à irrigação.
"Depois nos dizem
que a terra é pobre,
só tem areia"...

– Meu Velho Chico, perdão.
Se me desculpas,
eu teimo e grito
com o meu irmão
Deocleciano,
forte e bem alto:
"Mas que promovam
a irrigação!"

– Gritar, eu grito,
há muitos séculos,
não adianta.
Vezes reclamo,
vezes lamento.
Ninguém me ouve.
Nem o Estado,
nem a Nação.
" Não acham meio
de governar
este sertão,
depois nos dizem
que a terra é pobre,
só tem areia"...

– "Mas que promovam
a irrigação!".
Vão ver que a terra
reverte em rica
se for molhada,
faz-se em fortuna
para o Brasil.

– Ah, se promovem
a irrigação!
Vão ver que a terra
reverte em rica
se for molhada,
faz-se em fortuna
para o Brasil.

(Do e-book "Brados do Sertão")






"O Rio São Francisco é um grande amor que tenho. 
Eu passava horas e horas no Velho Chico, nadando..."

(João Justiniano da Fonseca, 19-01-2014)




O RIO SÃO FRANCISCO
João Justiniano da Fonseca

Minas Gerais. A Serra da Canastra.
Nasce um filete de água e outro mais.
Adiante outro e outros. Nos gerais
a água desliza e a deslizar se alastra.

É o São Francisco. O Rio Negro acolhe,
o Rio Grande e o Corrente, o Carinhanha.
Mais afluente enquanto desce, apanha
e se avoluma. Nada que o antolhe.

Rompe a floresta, a larga várzea o amplia,
sobe a montanha, em cachoeira desce,
os empecilhos rompe e desafia.

Avoluma-se. É a cheia. E rola e rola!...
Por onde passa as margens enriquece,
da economia é o motor e a mola.

(Do e-book "Canto Menor em Redondilha Maior")




Barca do São Francisco
João Justiniano da Fonseca
17-10-77

Na expressão figurativa
que lhe imprime Sanduarte,
parece que a barca dança
sobre as maretas do rio.

O remeiro empurra a vara,
de tanga e chapéu de palha...
Será que tem rapadura
sob o toldo dessa barca?

Cresce a carranca na proa,
domina inteira a paisagem
do rio, do céu, da lua...

Meu velho Chico, essa barca...
- Quem sabe, vem carregada
de sonho... - Sonho e saudade!

(Do e-book "Canto Menor em Redondilha Maior")




"Safiras e Outros Poemas",
o 1º livro do poeta (1960)




MEUS AMORES
João Justiniano da Fonseca

Eu te recordo ainda, ó meu amor primeiro!
Ingênuo e puro amor, simpleza de criança.
Tenho a doçura, Ilda, inebriante e mansa,
Da tua meiga voz, gorgeio lisonjeiro!

Eu não te esqueço nunca, ó meu segundo amor!
Meu cérebro desvela, aquece a imagem viva,
Do teu olhar vaidoso e deslumbrante, Diva!
Ó Diva do meu sonho arrebatado em flor!

De ti, meu grande amor terceiro, ainda relembro,
O beijo de mulher ardente, à luz da lua!
Um beijo apaixonado Eunícia, que flutua,
E os nervos me arrepia, ainda, se o lembro.

Meu anjo casto! – Branda e cismadora Vera!
Que placidez infinda e que remanso ondeia
Na quietude d'alma enregelada e alheia,
Que não protesta ou crê, duvida ou desespera.

Ó doce paulistana, ó puberdade em flor!
Botão que desabrocha! Encantadora Lessa!
Ainda no Braz te sinto a passear sem pressa,
Pendente do meu braço e sussurrando amor!

Meu velho Osasco, Osasco, ó meu saudoso amigo,
Que será feito dela, a pequenina Lia!
Despreocupada sempre, alegre me sorria!
Quando parti chorei, ela chorou comigo!

Rosas de Jericó! Mulheres ou Valquírias!
Forço a memória e vejo as paulistas louras,
Rubras de insensatez e amor! Loucas, desdouras,
Suzana, Eunice! Sara! – Ó descendentes Sírias!

Jamais te esquecerei, orquídea dos meus sonhos!
Ó sensitiva d' alma! Ó beijo de manjar!
De ti me fala ainda, ao vê-lo, o verde mar,
E as ondas do meu peito! Ó dias tão risonhos!

Manhãs primaveris e noites ao luar!
Ó praias! Coqueirais! Jangadas! Rochas! Dunas!
Ó vozes de Sereia! Ó cantos de graúnas!
Ó Sítio encantador! Ó mar! Ó mar! Ó mar!

Como as demais, passaste enfim! Passaste ó Nume!
E há só recordações, que não se apagam nunca!
E há sensação cruel de inconsciência adunca,
Na entrada poeirenta! Há mágico azedume!

Depois... Depois... Depois... Surgiste em minha estrada,
Ó rosa perfumada, ó doce flor de lis!
Cheguei-me aos lábios teus qual poisam colibris
Nas outras rosas, rosa alvenitente a amada!

Como num sonho fulvo o idílio foi, não mais!
Dos bosques, dos rosais, dos prados, dos vergeis,
As flores te depuz aos pequeninos pés.
E te adorei querida, assim, sobre as demais!

O derradeiro amor, eterno como a vida,
Poisou numa ferida ainda jorrando sangue!
Meu coração estava inteiramente exangue,
Cansado de sofrer! A alma enrijecida!

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")




SAFIRAS PARA O TEU CADERNO
João Justiniano da Fonseca

Sei que no teu caderno de poesias
Tem do cristal mais fino de Tobias;
Purpúreos rubis de Castro Alves
E pérolas fulgentes de Gonçalves.

Eu sei que tem, não o conheço, mas,
É claro, alguns brilhantes de Tomaz,
Ouro engastado de Luiz Delfino
E de Varela sublimado hino.

Figuram lá, também, Bilac e Humberto,
Machado, Guima, Abreu, Correia e certo,
U'a infinidade de poetas tais
Como Garret, Camões, Bocage e mais.

Estes meus versos sem lavor, sem luz;
Foi para ti, amada, que os compus
Em horas de saudade e dor no peito.
São rimas simples, feitas ao meu jeito.

Aceita-os, recopia em teu caderno,
Os versos tristes que te mando, terno,
Peito abrasado, amor – fogo na alma,
De coração sofrido e dor sem calma.

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")




SÓ TU EXISTES
João Justiniano da Fonseca  

Porque me falas minha doce amada,
De nomes outros, de mulheres idas!
De traidoras, pérfidas, fingidas,
Que amei por certo, mas em hora azada,

Tomaram rumo duma nova estrada;
E ao léu de seus destinos, esquecidas
Por mim, se foram para novas vidas,
Deixando apenas pó na longa escada

Que ascende ao coração, no escurecido
Rolar de meu destino dolorido!
E andei sozinho, caminhando à-toa,

Até que enfim ó minha amada e boa
E dedicada amiga, santa e nobre,
Enriqueceste a minha vida pobre.

(Do Livro "Safiras e Outros Poemas)




MEU VERDADEIRO AMOR
João Justiniano da Fonseca

Quando chegastes, eu era um resto de tormento,
Um misto de incruento pesadelo e sonho.
No peito estraçalhado, havia o pandemônio,
Na alma embrutecida, a furação e o vento.

Era imponente o peito, a alma era impotente,
– Na dor, como se sente a mesquinhez da vida,
Para suster o caos de uma ilusão perdida,
Para reter do pranto o jorro inconsistente.

Chegaste vagarosa ao por de um sol falaz,
Trazendo a luz que traz a lua cheia à noite.
O vento brando – o amor, mudou num leve açoite,
O furacão da alma, o pandemônio em paz.

Foste-me então, bonança e salvação, fanal.
Em meio ao vendaval, terrível do pecado.
Salvaste à derrocada um ente desgraçado,
Tiraste em mar lodoso a pérola, o coral.

Tu és, a alma divina, o verdadeiro beijo,
Meu único desejo, o verdadeiro amor.
És a alma de minh´alma, és a sidérea flor,
O peito do meu peito, a só mulher que eu vejo.

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")




CREDO
João Justiniano da Fonseca

Eu creio no perfume das mulheres
E no frescor da carne feminina.
Creio no amor, no gozo e em seus misteres,
A dádiva maior da mão divina.

Eu creio na beleza – e se disseres
Que há mulher feia, é que não tens a sina
De ter mãe viva ou esposa entre as mulheres,
Nem tens irmãs ou filha pequenina.

Eu creio na mulher – a singeleza,
Vigor e bem, poder reprodutivo,
Sacrifício, humildade, amor, pureza.

Eu creio enfim, que a humanidade, a vida,
Vem tudo da mulher – ser primitivo,
Benção de Deus à terra atribuída.

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")




João, o poeta-filósofo

"A poesia é paz espiritual, é alegria, é felicidade".
(João Justiniano da Fonseca no e-book "Cantigas de Fuga ao Tédio")





O POETA
João Justiniano da Fonseca

- Quem és na vida e o que queres,
pergunta-me um passarinho.
- sou poeta, tenho ninho
no coração das mulheres.

Quero amar e ser feliz,
plantar luzes, luas, sóis,
compor milhões de arrebóis,
de meus sonhos ser juiz.

Quero andar livre no espaço,
voar fantasias, um facho
de ilusões na mente sã.

Despertar a madrugada,
cantar com ela a balada
de louvação à manhã...

(Do e-book "Sonetos")



SEM COMPARAÇÃO
João Justiniano da Fonseca
Em 04-11-06.

Olavo Braz dos Guimarães Bilac.
Parece que o registro vem da aurora
em métrica solene, e a mais sonora,
sobre a fina camisa usa fraque.

João Justiniano da Fonseca.
Não percebeu ninguém até agora,
que este registro simplesmente mora
na métrica sem luxo, fraque ou beca.

No termômetro vida, isso é assim mesmo,
uma flor frutifica, a outra é peca,
e o mundo, permanente, rola a esmo...

Sem ter comparação de lustre e brilho,
a Bilac semelha este Fonseca,
que rola, no soneto, o mesmo trilho.

(Do e-book "A Vida do Poeta - Sonetos")




A ÚLTIMA AMIGA
João Justiniano da Fonseca
Salvador, 27-06-07, entre as 3h, 51m. e 4h, 27m.

A saudade... É você ou irmã Dolores?
O furacão fenício de dois meses,
o relâmpago Mai, luz dos meus olhos?
Ou a confusão mental da embriaguez?

A Mari, acaso, a mais doída e opaca?
Longamente presente em minha insônia?
Tão só, por tanto tempo... Sofri tanto...
Amei sozinho e só me masturbei...

Agora vem você... Sai de tão longe...
Que deseja de mim? Sangrar mais fundo?
- Não bom amigo, vim para ficar!

Ao teu lado estarei até o fim,
Serei como se fosse deusa e amante.
Teu derradeiro amor – sou a saudade!

(Do e-book "A Vida do Poeta - Sonetos")




DESPEDIDA
João Justiniano da Fonseca

Ouvi dizer que feliz
Passas os tempos de agora.
Nos braços de outro, sorris.
Como sorrias-me outrora.

Partiste senti saudade,
Senti despeito também.
Quem teve tanta amizade
Não deixa de querer bem.

Vai criatura... Se é preciso,
Some do meu pensamento.
E eu não fique assim indeciso,
Sepulte o amor peito adentro.

Tenho um pedido, meu bem,
Para fazer-te por fim.
Não digas nunca a ninguém,
Que te amei e quiseste a mim.

Rasga os verso que te fiz,
Ou devolve-os, por favor!
Fique entre nós, que eu te quis!
Que gozei do teu amor.

Morra conosco o segredo,
Bom demais, pra revelar-se!
Tenhas medo e eu tenha medo
Do segredo evaporar-se.

(Do e-book "Sonhos de João")




SONETO DO RENASCER
João Justiniano da Fonseca
9-06-07, 2 da manhã

Pudesse recompor o meu passado
fazendo-o reverter no hoje e agora...
Traria minha mãe – Nossa Senhora,
Santa Ana ou Mãe Rosa, tendo ao lado.

Né Justino, Domingos e Toínho,
e eu, donzelo - adolescente ainda,
hora no trono, hora na berlinda,
não sabia de uísque nem de vinho...

E eis o sobrado e a escola de Dulcina,
a Rodelas humilde e pequenina,
de antes da barragem Gonzagão...

Inteiro meu passado, hoje e agora,
renasce diariamente a cada aurora,
preso, arraigado em mim, no coração...

(Do e-book "A Vida do Poeta - Sonetos")




A CRIAÇÃO
João Justiniano da Fonseca
01-09-07

A terra e o mar. A alga e o lodo. A vida nasce.
A alga – sêmen. Lodo – óvulo. A lesma.
O cogumelo agora. A divisão. A classe.
O gênero e espécie. Igual papel em resma...

Como dizer que sim, como dizer que não.
Como contrariar a Natureza e os céus?
Dos céus um Deus eterno. E a eterna criação,
desce da Natureza acaso, ou vem de Deus?

A dúvida. Acolho o macho e a fêmea, em tese,
no poder de gerar. A alga e o lodo, os dois,
multiplicando a espécie. A vida vem de fezes..
.
O mar e a terra. Alga e lodo. Dá-se o encontro.
A Natureza cede o ventre de aluguel...
O mais é a perfeição multiplicada. E pronto...

(Do e-book "A Vida do Poeta - Sonetos")




TARDE TRISTE
João Justiniano da Fonseca

Brilhava a tarde azul, clara e tão bela,
Antes que o sol caísse no poente
De ouro, prata e vermelho na aquarela
Do anoitecer. Gemia a luz tremente...

Gemia! E se gemia, certamente,
Estava dolorida como a vela
Que pinga a cera piedosamente,
No velório tristonho da donzela...

A tristeza da tarde é como a espiga
Que murcha no trigal, e peca, e mirra,
Porque não chove e o sol queima e castiga.

Velório de donzela e tarde triste...
A noite engole o dia, e a vela espirra
Um gemido e se apaga, não resiste.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




POESIA
João Justiniano da Fonseca  

Uma religião é a Poesia,
Da qual, a igreja é o sonho multicor,
Sendo o poema a santa eucaristia,
Sacerdote o poeta. Deus o amor.

Crença dos mansos, simples como a flor,
Humilde como o ritmo e a harmonia,
Por dogma doutrinário a fantasia,
O coruscar de estrelas, luz, calor.

Religião de Hugo e de Camões,
De Castro Alves, de Gonçalves Dias,
Bilac – os astros, as constelações.

Meu Credo e minha Fé sem heresias,
Minha esperança sem limitações,
Simples temor de insônia e hipocondria!

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




O AMOR 
 João Justiniano da Fonseca 

Formidável sentimento
Que nos une em tempo e espaço,
O amor é a força e o alento
De tudo que penso e faço.

Pelo amor, todo o momento,
Toda a existência é um abraço
Que nasce e cresce em rebento,
Que se forma passo a passo.

Para amar é que eu existo,
Só pode ser para isto,
Que mais seria a existência?

Quando o meu peito parar,
Ainda assim hei de amar
No que me resta da essência.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




AOS QUE ME AMAM
João Justiniano da Fonseca   
26-11-2011

Quero uma rosa vermelha
Que se construa no bronze
Em fogo – simples centelha
No meu sepulcro de monge.

Ai pose igual a abelha
Para ser vista de longe.
Não esquecer! É vermelha,
As demais cores se esponje.

Garanto, lá estarei,
Em alma, no meu sepulcro,
A contemplar o que amei.

A alma não vê o lago.
Contempla somente o pulcro
Rio descendo... Eu sou mago!


II

Não! Não isso. A despedida
Será mais simples. Somente
Ser cremado. A cinza quente
Ao vento e ao acaso ungida.

Seja leve na subida
Como a ascensão simplesmente
De tudo que fiz. E a mente
Despeça-se assim, da vida.

Quero o chão onde nasci
Como destino. Que aí 
Nasça uma árvore e ave

Venha de leve pousar,
Construir seu ninho e amar
A vida simples e grave.


III

Passe o tempo, passe gente,
Passem os que vêm depois.
A vida dirá presente
Ao meu escrito — a nós dois.

Vento, meu vento, vós sois
O testemunho presente
Do que se passou. Eis, pois,
A vós minha cinza quente.

Deus em Si retenha a alma
E eu não Lhe seja impróprio
Na eterna e infinita calma.

Suba tempo, tempo dessa,
Enquanto Deus em Si próprio
Tenha-me a alma eu o mereça.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




INÊS
João Justiniano da Fonseca

Na hora em Inês nasceu,
A mãe dizia – bem vida!
Foi Deus do Céu que me deu
Essa coisinha tão linda!

A jovem Inês cresceu
E a mesma beleza ainda.
Na rua um rapaz lhe deu
Um beliscão – coisa linda!

Gestos de moça dengosa,
Toda alegre, toda prosa,
Inês respondeu sorrindo.

Aí o rapaz caiu:
Deus do céu, nunca se viu
Um sorriso assim tão lindo!

(Salvador, Hospital Português, 06-05-1980!)

(Do e-book "Cantigas de Fuga ao Tédio")




AH! SE EU PUDESSE!
João Justiniano da Fonseca
31.08.07

Pudesse eu, amor, ser árvore frondosa,
Para te oferecer a sombra acolhedora!
A manta mais espessa e quente, a mais fibrosa,
Para te agasalhar o corpo de senhora!

Como quisera ser chalé, no hoje e agora,
No futuro também, depois, além, além,
Que fosse abrigo e lar, repouso de meu bem...
Um saudável recanto, o sonho e a luz da aurora...

Como quisera estar amiga, nos quarenta,
Com o mesmo tesão que enrijece e aguenta
Uma noite de amor sem quebrantar a força...

Ah! Se tanto não posso, ao menos seja isso:
 — Amor, dação, entrega em cujo fogo e viço,
A alma vibre, e o corpo ainda se retorça...

(Do e-book "Bordar o Canto de Luz")




POESIA
João Justiniano da Fonseca
3-05-08, às 5,11 h

Poesia....
Poesia...
Poesia? O que poesia?
Poesia é Deus na criação!
Poesia a chuva caindo, molhando o chão.
A planta brotando,
o mar nascendo...
Nascendo e crescendo, se avolumando.
O mar...
O mar é poesia,
o sol nascendo no mar, morrendo no mar...
Vê o nascer do sol no mar,
o por do sol no mar!
Na floresta também, nos rios...
Vê as corredeiras, a água despencando das cachoeiras...
Vê!
E a flor desabrochando, o perfume das flores?
E as aves, os pequenos passarinhos...
Olha o passarinho voando,
a garça branca,
o negro corvo planando...
A águia no mais alto,
a águia...
O condor de Castro Alves...
O condor de Castro Alves, onde haverá maior poesia?
Poesia...
Poesia...
Vê, a mulher é poesia!
A mulher se enfeitando,
cuidando-se
e se programando...
- Eu vou me programar, ela diz.
E bem dizes, mulher, e bem dizes!
Tu és a flor maior e mais bela da criação de Deus!
És a mansa poesia, divinal, definitiva!
És mulher, minha mãe, minha irmã, minha filha.
E eis a companheira!
Para a cama, para o sonho e para a vida!
Poesia...
Poesia...
Poesia, a gente no trabalho,
a forja, a bigorna, o malho,
o livro e o papel, a escrita, o estudo.
Poesia é tudo, é tudo,
que há de belo no mundo.
Poesia...
Poesia...
Por que se faz a guerra, meu Deus,
Quando a gente nasceu para a poesia?
Por que há fome e miséria no mundo,
quando Deus o criou para a poesia!
Ah, a poesia, senhores poetas...
Quando Deus andou no mundo
criando sua poesia,
ao trabalhar o homem do barro e da alga do mar,
teve a primeira palavra – e foi em português –
és minha imagem e semelhança,
és poeta!

(Do e-book "Bordar o Canto de Luz")




O TEMPO E O AMOR
João Justiniano da Fonseca
SSA 24/09/07.

Ama, ama profundamente. O coração
Há de entregar-se, inteiro, puro como os santos,
Ou como a virgindade e a paz da alma infantil,
Igual a Deus talvez, igual à luz dos olhos!

Não te receie amar! O amor é o sentimento
Mais expressivo e belo, e o dom da natureza,
Que move mundos. – Chãs, montanhas, mares, ventos,
E, por si mesma, a vida, o próprio coração...

Porém, o amor, maior que seja, lá um dia,
Acaba-se. Um temporal, um vento forte,
Ou um nada qualquer... O tempo, só o tempo...

E eis que se esgota o amor, o sentimento, a alma!...
Ergue a cabeça e segue. Foge a ser sozinho...
Busca outro tempo, pois, procura um novo amor!

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




MINIVERSOS
João Justiniano da Fonseca

Amo os
versos
puros,
tersos.
Quero
tê-los
sempre
belos.

Sobre
sonho,
versos
ponho.
Talho
pedra,
verso
medra.

Riso,
pranto,
tudo
canta,
tudo
chora
quando
crio.

(Do e-book "Cantos de Amor e Louvor a Pindorama")




AS MULHERES E O TEMPO 
João Justiniano da Fonseca 
SSA 04.10.09

As mulheres e o tempo. Desde Eva
A mulher é mais sábia do que o homem.
Ela, que inventa o sal e o vinho, e leva...
Leva-os ao seu Adão. E os dois consomem!

Vem desse tempo o dia claro e a treva,
Os símbolos que criam e consomem
A vida humana... Ou a animal? Escreva
Com letras de ouro — o homem é só homem.

Mulher? Mais do que homem. Vezes mil!
É a dona do Poder. No mundo inteiro.
Homem? Coadjuvante... E... Se é viril!

Com letras de ouro escreva – garrafais!
 — O galo enxerta apenas, no poleiro,
O ovo é da galinha e pede mais.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




SENHOR!  
João Justiniano da Fonseca
30 de junho de 2006, às 17h 30m.

Aqui estou eu, Senhor, uma vez mais,
Para o agradecimento e um pedido.
Não mereço e ainda peço, porque vais,
Na bondade divina ao desvalido.

Porque és bondade e graça, amor demais,
Chego aos oitenta e seis reverdecido.
Pedir para além disso? És bem capaz
De oferecer ao menos merecido.

O exagerado amigo pede cem
E quer que no pedido eu o acompanhe,
Rogando sempre mais. Mais para além!

Nem tanto assim, Senhor. Peço dez anos.
Se o permites com vinho e com champanhe,
Chegam noventa e seis para os meus planos.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")



JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA 
POR JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA



O SONHO DE JOÃO
João Justiniano da Fonseca

João tá dormindo,
não quis despertá-lo...
João, que dormia,
dormia e sonhava.
Olhando-o, queria
fruir a poesia
que livre sorria,
cantava em seu peito.
O riso o afagava!

João, que dormia,
dormia e sonhava.

Um riso de lira
que afaga, que inspira
quebrantos de amor;
transmuda em beleza
a amarga tristeza
que vem... Nem eu sei
dizer de onde vem
na vida da gente!

Quem sabe dizer
que vagos motivos,
esparsos e esquivos,
dispõem à tristeza
que rola do peito,
em prantos desfeito,
sem que nem por quê?

Quem, rico de prendas,
de estro, de lendas,
define as confusas
tormentas internas
que a gente, sofrendo,
nem sabe entender?

Quem sabe dizer
que incertos pensares,
remotos pesares,
envolvem-se, internos.
no centro nervoso,
no peito talvez,
criando essa angústia
de ser e não ser?

Quem sabe por que
no embalo do verso
a dor se transmuda
em canto e sorriso?

Afirme-o quem canta:
se há um mundo diverso
no sonho, no verso,
que a vida não sente.

João tá dormindo
e eu quis despertá-lo.

– Acorda, João!
Que dormes? Por que?

– Acorda... Acordar?
Não vês que no sonho
a vida sorri?
O sol se levanta,
a terra se encanta
da eterna poesia
que envolve mil mundos.

Abriram-se as rosas,
as flores mimosas
do campo ao jardim.
A brisa anda solta
brincando nas folhas,
na relva, nas flores,
na luz sob o sol.
A verde folhagem,
a farta ramagem
balança na copa
frondosa das árvores.

A vida lá fora,
acaso é assim?
O mar vem de longe
e brinca na areia,
sorrindo na espuma
que ensopa seu ventre.
O mar vem de longe!
A praia é a esposa
que ri carinhosa
aos doces afagos
do esposo feliz.

A vida lá fora,
acaso é assim?
É dia de gala
e a vida se embala
no riso das coisas.
Há riso nos campos,
nas folhas, nas flores,
nos frutos maduros
da serra ao pomar.
Há luz infinita
que vive e palpita,
espalha-se e grita
nas vozes dos seres.

Deus ri no sorriso
sem fim das crianças
– os anjos da terra.
Deus ri com os pássaros
trinando, cantando
sem que nem porquê!
O mar anda solto
feliz como o sonho
que eu ponho e disponho
por graças de Deus.

A vida lá fora,
acaso é assim?

Há cantos de paz
dormindo em meu seio.
Há risos de luz
dormindo em meu canto.
Há fogo de amor
correndo nas veias
à espera que o leias
vertido em poemas.
Há deuses no sonho
que eu ponho e disponho
por graças de Deus.

Lá fora é assim?

João tá dormindo...
João não desperta...
– Pois dorme, João!
João, não despertes!
Se acordas, invertes
os sonhos em dor,
a paz em tormento,
o riso em cruento
pesar de viver.
João tá dormindo!
Que sonho tão lindo
João tá sonhando!

Há mundos de fada,
princesa encantada...
de Brancas de Neve...
Romeus, Julietas!

Pois dorme, João!
Pois sonha, que o sonho.
é o mundo dos deuses!
Por Deus, não acordes.
aos tristes acordes
da vida pesada
de guerra e desastres.
Há bombas que atroam
matando e ferindo
num mundo convulso
de horror mais horror!

Cá fora, é assim.
Deus clama terrível
na voz desastrosa
das bombas que atroam.
Pois dorme, João!
Não vou despertar-te.
Pois sonha, que o sonho.
é o mundo dos deuses.
E seja teu mundo
de eterna poesia,
de paz e de amor!

(Do e-book "Sonhos de João")




MEU BRINQUEDO, PAPAI NOEL!
João Justiniano da Fonseca
(Reeditado de "Sonhos de João")

Natal!
Tanto desejo cristão
e tanto humano desejo
morando no coração
sem ter nunca, nunca o ensejo
de sair do terra a terra
de um Natal a outro Natal.

Tanto desejo na gente
de ver um povo contente,
felicidade brincando
no coração e no viso,
na voz, no gesto, no riso
de um povo bom trabalhando
hora a hora, tento a tento
para ganhar o sustento
e ser feliz trabalhando.
Não ter menino doente,
não ter menino indigente
não ter menino chorando.
Felicidade brincando
nos brinquedos, na inocência,
na sadia inconseqüência
das criancinhas cantando.

Felicidade brincando...
Papai Noel, também eu!
Se você me prometeu
naquela noite de sonho,
por que esquece o meu brinquedo?
Papai Noel esqueceu?

Se o repito... Isto é um segredo
que só em sonho eu diria.
Papai Noel poderia
adivinhar meu segredo?
Papai Noel vai-me dar
este brinquedo de sonho?

Eu quero paz sobre a terra,
não quero sangue nem guerra,
não quero revolução.
Desejo carne e feijão
para meu povo esquecido,
para meu povo sofrido,
que não tem nada de seu.
Papai Noel esqueceu?

Papai Noel vê o mendigo
andrajoso, seminu,
mal cheiroso, no postigo
de um palacete implorando
e a caridade gozando
na ânsia de aparecer?
A caridade insensível,
descendo sempre de nível
na mesquinhez de quem dá?

Papai Noel tem poder
de puder retificar
a humana desigualdade?
- Ponha longe a caridade,
dê-nos casas na cidade,
dê-nos lavoura no solo
e muitas rezes no campo.
Dê-nos roupa no tear!

(Do e-book "Canto de Natal")




BOCA-DE-FORNO
João Justiniano da Fonseca

– Boca de forno?
– Booolo!
– Jacarandá?
– Dááá!
– Quando eu mandá?
-Vooou!
-Mando e remando a quem for
tomar a bênça a vovó.

E a turma corria,
cada qual e cada qual
querendo chegar primeiro:
– Bênça, vovó.
– Bênça, vovó.
– Bênça, vovó.
– Deus abençoe, Deus abençoe,
Deus abençoe a todo mundo.
Virge Maria, que é minino!

E a turma voava de volta,
cada qual e cada qual
querendo chegar primeiro:

Ai, brinquedos de criança!
Ai, vovó que já morreu!
Tantos anos, tantos anos
e o tempo mal percebeu!

Ai, vovó fazia doce
de coco, de melancia
pra que fossem todo dia
por muitas vezes no dia,
netos, bisnetos, trinetos,
à sua casa de taipa,
piso de barro batido...

– Vó,
Conte histórias de outros tempos,
quando você foi menina!
E vovó contando histórias,
a gente em pouco dormia.

A história se repetia
na noite do outro dia.
Crianças iam de noite,
todo dia, todo dia
para a casa da vovó
ao doce de melancia.

Vovó cobrava um tostão
em cada prato de doce.
E que prato, que pratão!
(fora os que dava de graça!)
– Pra que dinheiro, vovó?
– Comprar açúcar, meu neto!

Nunca vi vovó zangada...
Não me lembra, não me lembra.
se algum dia se zangou.
Vovó chorar, isto eu via.
Algumas vezes vovó
resmungava, lamentava...
cantarolando baixinho!
– Qui tem vovó, qué qui tem?
– Tenho saudade, meu neto,
dos tempos que eu era moça,
dos tempos que era menina!

Vovó chorava baixinho,
fazendo rendas e bicos
para vender a tostão.
– Pra que dinheiro, vovó?
– Pra comprar linha, meu neto!

Ai, vovó, que é da vovó?
Ai, que é dos tempos de outrora.
quando eu era pequenino,
comia doce de coco
e doce de melancia,
um prato por um tostão
e ainda enganava vovó?!
Ai, que é dos tempos passados?
Boca de forno,
Galinha gorda...
– Galinha gorda?
– d´água ééé!
E tibungo, no fundo do rio!

Jogar castanha ao bitelo...
– Ganhei!
– Não, eu ganhei!
E lá vai um pega-pega,
um bolo de fim de mundo!

Se a gente voltasse um dia
a ser criança outra vez...
Mesmos pais e mesma avó,
mesmos brinquedos de pobre
na mesma terra natal!
Mesmos tempos do tostão!

Oh, brinquedos de criança!
Oh, vovó que já morreu!
Tantos anos, tantos anos...
e o tempo mal percebeu!

(Do e-book "Sonhos de João")




RECORDAÇÕES
João Justiniano da Fonseca

Ouve mãe, chora teu filho
Num langoroso estribilho.
É noite de São João!
Há fogueiras, há balões,
Fogos bonitos, rojões,
Clareando na amplidão.
Há licor de jenipapo,
Alguns bolos, pães-de-ló...
Canjica não, que em farrapo,
Fez-se o milho, fez-se em pó.

É noite de São João!
Em meio às festas, eu vi,
Contristado o coração,
Crianças pobres nas ruas,
Tendo as costas semi nuas,
Tiritantes e sem pão.
Ainda há pouco, eu ouvia:
A sanfona festejava,
Uma criança chorava...
E sua dor me doía.
Tenho um vizinho a meu lado...
Ele trabalha – coitado!
Num serviço de emergência.
Gemem seus filhos de fome,
Frio junino os consome,
Que na terra, gela o inferno!
Ontem estava fechado
O barracão, que era festa.
(Ao infeliz, o que resta?)
– Não comeu o desgraçado.

É noite de São João!
Ó mãe! me lembro de ti.
De quando um dia dormi
Juntinho ao teu coração.
E depois .. Ouvi a história
Sem galardões e sem glória
Da batalha que travaste.
Eras moça, eras bonita,
Da vovó eras a dita
Quando um dia te casaste.

Pobre tu e pobre o esposo,
Jamais tiveste repouso,
Descanso nunca tiveste.
Logo após o casamento
Iniciou-te o tormento
Que às almas santas reveste.
Foste à roça no outro dia
Catar feijão com o marido.
Teu amor, mãe, foi ungido
Com o sorriso da agonia.

Depois, me lembro, eu crescido,
Já tive a dita sem par
De queimar fogos e impar
Balões ao céu. Comovido
Sinto saudades de então.
Ouço o pífaro, o zabumba,
Que na alvorada retumba
Num batuque repisado.
– A saudade é a catacumba
Onde repousa o passado!

Lá vejo a antiga igrejinha...
No seu nicho o Evangelista,
Sobre o Altar João Batista,
A sacristia de lado.
Ali junto um Benedito,
No altarzinho encastoado.
O padre, os beiços mordendo,
Resmungava com as beatas.
Pelos modos e bravatas,
Tantas cadeiras batendo.

Era moço! Quanto sonho!
(A saudade é boa amiga,
Minha memória fustiga
Quando ao passado me ponho).
Pensei crescer, triunfar,
Galgar postos, estudar,
Ser herói, ganhar vitórias!
E volver aos meus rincões
Recoberto de brasões,
Enlourecido de glórias.

Quando parti, pressuroso,
Via grandezas à frente.
Tinha então, o peito quente
De esperança e sonho honroso.
Queria ter meu sertão
Da miséria redimido,
Buscaria a salvação.
Quebrar a dor, o gemido,
Do meu povo estremecido...
– Seria um novo Sansão.

Tropecei, porém, na estrada,
Não pude mais caminhar.
Fui medíocre sem par,
Imbecil, ao pé da escada,
Parei triste. – Triste e só,
Pois não era a de Jacó...
Vi em cima o algoz, o mau.
Pousou-me a dor no semblante,
Morreu-me o sonho gigante,
Não subi um só degrau!

E fiquei olhando o caos,
Vendo crescerem os maus,
Sozinho, triste, impotente.
Pequenino, acorrentado,
Nasci séculos atrasado,
Estranhei a época e a gente.
Não devera aqui estar!
Devera nascer selvagem,
Não olharia a miragem
Do que não posso alcançar.

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")




A GUERRA E O POVO
João Justiniano da Fonseca 

"Lançai um protesto, ó povo,
Protesto que o Mundo Novo
Manda aos tronos e às Nações!

Castro Alves.



A hora é negra, senhores:
Sopra na África o simum,
No Brasil o minuano!
Na velha Europa é comum
O vento do desengano.
A Rússia, lá se debruça,
Com garras de abutre negro,
Sonha com um mundo grego,
Com a romana heresia,
Triunviratos, dinastia!

Cá no mundo americano,
Lá no Norte, não no Sul,
Olha a América Istambul
Dos tempos de Constantino,
Ou França napoleônica!
Todos pretendem crescer,
Querem todos o poder,
Mas ninguém pensa em Verônica...
Ninguém pensa em progredir
Como José, sem ferir.

A hora é negra, senhores:
Geme o mundo os estertores
Da hora da combustão.
Bradam líderes convulsos,
Erguendo no espaço os pulsos
Como bradara Catão!
De cá das terras da América,
Dizem que a Rússia é Cartago;
Grita a Rússia, voz histérica
Que isto aqui é um mundo ignavo.

Havana e Congo... Eis a estréia...
Câncer, tísica, morféia,
Ou não sei lá que desgraça!
A mão da guerra amarrota
A gente semi-idiota,
A bestial populaça!
Devora o povo o canhão,
Fuzilaria, metralha...
Tétrica a morte se espalha
Nas asas da aviação.

A hora é negra, senhores:
O povo paga, com a vida,
Que Deus nos deu para a lida,
A ganância dos traidores,
Dos carrascos grandalhões,
Poderosos semi-deuses.
Em toda parte há grilhões.
Contando arma aos milhões,
Os fazedores de guerra
Derramam sangue na terra!

Sangue sim, sangue do povo,
O sangue do Mundo Novo,
O sangue do Velho Mundo!
São tiranos pavorosos,
São lobos, são cães raivosos
Bebendo o sangue oriundo,
De nossas veias de escravos...
Guatemala, Argélia, China...
Por toda parte ha chacina,
Monstros, covardes e bravos!

Guerra é peste, é fome, é dor,
Guerra é morte, horror e horror...
Sei que o povo não quer guerra.
Mas o povo é liderado...
Melhor digo, acorrentado,
Em todo o mundo na terra
Por sanguinários cruéis.
Rola o sangue em borbotões,
Enquanto rangem grilhões,
Levando o povo ao revés.

A hora é negra, senhores:
Nossos líderes, traidores,
Dos princípios decantados
Nos comícios populares,
Nos programas luminares
De partidos enxertados,
Vendem pátria, vendem povo,
Aos fazedores de guerra.
E o povo geme na terra
Do velho mundo até o novo!

Porque não tomam de espadas
Mac Millan e Eisenhower,
Khruschev e mais pau a pau
As pessoas felizardas...
Porque não vão para a luta
À frente dos batalhões,
Conquistar louros, brasões,
Como fez Napoleão?
Julio César, Constantino,
Não foram covardes, não!

Mas, é que as pompas do Kremlim,
Da Casa Branca, senhores,
Não se trocam pelas dores,
Pelos martírios da guerra...
A morte, a fome, os horrores,
Da metralha e do canhão!
Ó cavardes fazedores
De guerra, sem coração,
Por que não ides à luta
À frente de um batalhão?

Eis a guerra: negro abutre
Que só de sangue se nutre,
O sangue da populaça!
Erga-se o grito do vate,
De plaga em plaga e arrebate
O povo, o povo na praça,
Contra a guerra e os tubarões:
"Lançai um protesto, ó povo,
protesto que o Mundo Novo
manda aos tronos e às Nações"!

(Do Livro "Safiras e Outros Poemas")




NOITE DE FINADOS
João Justiniano da Fonseca 

Não sei se devo cantar,
Nem sei se devo chorar,
Nesta noite de finados.
Talvez chorando, o meu pranto,
Chegasse a quebrar o encanto,
O mistério dos passados.
Talvez um canto saudoso,
Fosse tirar do repouso,
Os que hoje são lembrados.

Melhor seria pensar...
Calmamente meditar;
Que os meus dias são contados!

Se lembro hoje a vovó,
Doce velhinha tão só
No seu sepulcro sombrio;
Se lembro o amigo da infância,
Que habita agora outra estância,
A estância do que partiu;
Se lembro os mortos queridos,
Ora dormindo esquecidos,
Sinto o gelo, a dor, o frio,
Do temor e da saudade!
E penso na Eternidade,
Esse caminho sombrio!
Será a morte o fim da vida,
De uma existência querida,
Ou o começo de outra era?
Além da vida terrena,
Há outra vida serena!
Além das nuvens, da esfera!
Pensar que a vida é fugace,
Isto é encarar face a face
O que se é, o que se espera.
É lembrar que somos nada
Para o nada em caminhada,
Quimera para a quimera!

(Do Livro "Safiras e Outros Poemas")




MÁRIO QUINTANA
João Justiniano da Fonseca
Salvador, 05 de maio de 1994

Mário Quintana dormiu,
na eternidade acordou
à mão direita do Cristo.

Ninguém me diga que isto
é morte, Mário revive!

Agora é estrela e brilha
no longe da eternidade,
se em nós é vida e saudade,
na história é a confirmação
do homem feito poesia.

Deus, o poeta não morre,
nem sei bem se o poeta dorme...
Encanta, sobe em casulo
para o Palácio do Eterno!

Mário Quintana revive,
poeta agora encantado
à mão direita do Cristo.

(Do e-book "Rio Grande do Sul")




A PÁTRIA
João Justiniano da Fonseca

Pensamento
recurvado
ante o espírito
da Pátria,
nos vultos
do seu passado
a minha mente retrate-a.
Pátria!
o meu céu,
as estrelas,
os prados,
as matarias,
rios,
mares...
- entendê-las -
mães rezando ave marias!

(Do e-book "Canto de Amor e Louvor a Pindorama")




RURAIS
João Justiniano da Fonseca
Salvador, 22-11-94

Havia uma paisagem muito linda!
As árvores e um lago, os pegureiros
apascentavam bandos de carneiros,
o sol ia esconder a tarde ainda.

À distância, surgia, como vinda
de curvas escondidas nos oiteiros,
a lua, em raios dúbios e ligeiros,
e agora, o sol entrava na berlinda.

Fixo a paisagem com unção de monge,
lembrando um tempo longe, muito longe,
cenas rurais de quando fui menino.

As vacas no curral, leite, coalhada,
manteiga e requeijão - de madrugada
começava a labuta, e era divino!

(Do E-book "Leveza do Soneto I")





João e a Vida

"Não maldigo a sorte,
mas trabalho, sonho e espero
sem pensar na morte"

(Haikai de João Justiniano da Fonseca no e-book
"Cantigas de Fuga ao Tédio")






E a vida, poeta João, o que é a vida?

João responde:

"A Vida é um grande amor que tenho.Quero muito bem a ela.
A vida são também as amizades que participam do trabalho da escrita literária, como os amigos que fiz lá no Rio Grande do Sul, onde sou bem aceito".

(João Justiniano da Fonseca, 19-01-2014)




A BELEZA DA VIDA
02-07, às 5,30h.

A beleza da vida está na própria vida,
nas flores do jardim, no fruto do pomar.
No amanhecer do dia, o sol vindo do mar,
ou da várzea, da serra - eterno na subida.

A beleza da vida está no conjugar
os rios, a floresta, e a comprida avenida...
Pista e velocidade, os pneus a rolar!
Ou, no espinho e na rosa? Ou na idade vivida?

A beleza da vida – o homem no trabalho,
no campo ou na cidade. A enxada. A pena. O malho.
Mover de sonho e fé, de luz, de cabedais.

A beleza da vida – o todo na impulsão
de tudo que se move. O amor, o coração...
O destino da paz, a paz. A íntima paz!

(Do e-book "A Vida do Poeta -  Sonetos")




A VIDA
 João Justiniano da Fonseca 

A gente vem de um nada. E o tempo, a lida
pega esse nada e leva em sua cauda,
feito papel carbono em cuja lauda
vai decalcando e costurando a vida.

Passam-se dias e anos. Na vencida
desse passar veloz e permanente,
o tempo arrasta, em sua cauda a gente
traçando o risco e a pauta colorida...

E vai e vai, de lento na escalada,
de noite, de manhã, de madrugada,
no passo de quem anda e não se avia...

Na viravolta, independentemente
do sim, do não, ou do querer da gente,
Sempre há uma vida nova e um novo dia.

(Do e-book "Sonetos")




A VIDA
João Justiniano da Fonseca
16.07.84

Olha a vida urgente
antes que se esconda o sol,
olha-a bem de frente.

Não te curve a dor,
não te amargue o amargo fel
nem faleça o amor.

A luz da bondade
quando te partires, fique,
fique por saudade...

Oh que coisa é a vida
de que nada se conduz
e onde tudo fica...

(Do e-book "Cantigas de Fuga ao Tédio")




AS ROSEIRAS DOS CAMINHOS
João Justiniano da Fonseca 

Inspirado em Vasco de Castro Lima: ESTRADA DO SONHO.Registro uma saudade. Escrito em 1976,
quando conheci o Vasco em um encontro da UBT/BA, então comandada por Luiz Rogério de Souza.

“Ardendo em sonhos, florescendo em rosas”,
 As roseiras nativas dos caminhos,
Têm vida centenária, e mais viçosa,
Alvoroçam de amor os passarinhos.

Os deuses as cumulam de carinhos,
O beija-flor adeja-as. Sempre airosas,
Enfeitam mais as alas dos caminhos,
E mais enfeitam e mais são graciosas.

Os passantes se inclinam rindo à vida,
Feliz de gozo vibra a natureza,
Abre os braços aos céus, agradecida.

E os céus, de si, bem dizem à beleza
Da terra, criação bem sucedida,
Pupila do Astro-Rei — ígnea realeza.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")


Poeta João, o que é "saudade"?
João responde: "É a vontade de ver outra vez.É a continuidade,
cortando-se o que é ruim. É um revisitar de quadros, revivendo... 
A pintura é outra Arte de que gosto muito.Os quadros refletem
imagens bonitas que já vivi..."

(João Justiniano da Fonseca, 19-01-2014)




SAUDADE
João Justiniano da Fonseca

Ó MÁGICA SAUDADE...
ETERNIDADE
EM HORAS SECULARES
DE PESARES!
Ó CRUZ DO MEU CALVÁRIO.
MEU SUDÁRIO...
EXPLENDOROSA FLOR
DO MEU AMOR.

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")




SAUDADE
João Justiniano da Fonseca

Sentimento mais profundo
do que a saudade, não sei
se se conhece no mundo,
nas terras por onde andei...

Nos caminhos que passei
um a um, por frente e fundo,
nunca ninguém encontrei
sem ter saudade no mundo...

A saudade é dor tirana
que vale para a cigana
e para o gajo também.

Confunde, corrói, amarra,
quando no peito se agarra
fica eterna, Deus amém...

(Do e-book "Cantigas de Fuga ao Tédio")




SAUDADE - TROVAS
João Justiniano da Fonseca

Seja onde for, com for,
acaso ou fatalidade,
as cicatrizes de amor
rebentam sempre em saudade

* * *

Saudade, a gente distante
de quem presente se faz.
O coração no mirante
contando o tempo pra traz

* * *

Suspiros de amor desfeito,
aura, vento, tempestade,
cai no vazio do peito
e a gente chama saudade...

* * *

Saudade é dentro da gente,
a alma do amor fenecido,
encarnado, renitente
no tumulto do sentido.

* * *

Quando a saudade chegar,
abre a porta, dá-lhe abrigo,
ajuda a pobre a enxugar
o pranto que traz consigo...

* * *

Meu passado não morreu,
caminhando pela idade,
encantou-se, ainda é meu,
tem outro nome - saudade!

* * *

Saudade, sopro de amor,
sentimento universal,
pingos de riso na dor
da vida sentimental...

* * *

Saudade! Saudade é tédio,
ai, angústia, hipocondria
que tem cura no remédio
que a gente chama poesia...

* * *

Saudade do que morreu
e a gente lembra perfeito,
é a dor do que mais doeu
no mais profundo do peito.

* * *

Saudade da mãe ausente
É vontade de voar,
E de joelhos, presente,
As rugas santas beijar.

* * *

Saudade do filho é medo.
de que algum mal lhe aconteça.
Nem dureza de rochedo
faz que um pai não se enterneça...

* * *

Saudade da noiva, um gosto,
desejo imenso de ver.
Distância longa de um rosto
pertinho do bem querer.

* * *

Saudade da esposa, ardor,
noite indormida, ansiedade...
Este sim, eu sei que é amor,
esta sim, sei que é saudade

* * *

A saudade dói, que dói!
Dói que dói no coração.
E doendo sempre constrói
a esperança e uma ilusão...


* * *

Oh canta a saudade, canta,
não chores não, que dói mais!
Encanta a saudade, encanta.
trocando o gemido em ais...

* * *

Saudade no coração,
um sentimento caipora.
Não sei dizer, não sei não...
É isto que sinto agora.

* * *

Que preço tem a saudade,
e que preço o envelhecer!
Quanto custa a eternidade,
na ausência do bem-querer...

* * *

Saudade - casa caída,
da qual só resta o alicerce,
tempo morto, hora vencida,
plantinha cortada cerce...

* * *

Arde no peito da gente,
quer reviver cinza morta...
Canta, soluça plangente,
a saudade atrás da porta.

* * *

Uma vez, morto-de-sede
no meu sertão calcinado,
um velho estendeu a rede
à saudade do passado.

* * *

Para matar a saudade
que me vinha torturando,
encomendei a piedade
de um lenço branco acenando.

* * *

Vi teu amor de passagem,
sorrindo felicidade.
Voava, deixou a imagem
refletida na saudade.

* * *

O espaço aberto na carta,
é da saudade o recanto.
Beijo-a aí e alma se farta,
beijando o espírito santo.

* * *

Leva um recado, saudade,
à saudade de meu bem.
Venha da estrada à metade,
que aí eu irei também.

* * *

Desejo de ver - saudade!
Vontade de ter - amor!
Sem o desejo e a vontade,
o coração é incolor...

* * *

Se cantando pela idade
o sofrimento alivio,
vai-se a dor, fica a saudade,
e o peito nunca é vazio...

* * *

Cantando espanto a saudade,
não acho melhor remédio...
Mas, que ironia - me invade
maior doença - é o tédio.

* * *

- Quem bate? - Sou a saudade,
que venho te dar alento.
Foi-se a tua mocidade,
vou usar seu aposento

* * *

Quanta saudade e amargor
no meu pobre coração,
quando partiu meu amor,
um dia, sem ter razão.

* * *

A vovó chora cantando
sua imensa solidão...
É a saudade transbordando
a passada devoção.

* * *

A saudade despertou
no fundo do coração,
o que tão longe ficou
- meu pai, mamãe, meu rincão...

* * *

Saudade, simples distância,
seja no tempo ou no espaço:
Saudade do ontem, da infância,
no agora do meu cansaço...

* * *

Partiste, deixando aberta
a porta, veio a saudade
e ficou, pouco lhe importa
matar-me a felicidade.

* * *

Partiste, felicidade,
e deixaste aberta a porta,
veio e ficou a saudade,
minha dor nada lhe importa...

* * *

Trabalhei anos a fio
pra ganhar felicidade.
Deus a entregou a um vadio
e me deu a irmã saudade

* * *

Meu amor chegou cantando
e cantando foi-se embora.
Veio a saudade chorando,
faz tanto tempo, e inda chora...

* * *

Sei de dois temas de trova
da remota antiguidade,
que têm feição sempre nova:
Um o amor, o outro a saudade.

* * *

Eu andei longe na vida
buscando a felicidade,
sem saber que na partida
deixava-a feita em saudade.

* * *

Porto Alegre, na saudade
morando em meu coração...
O amor, a felicidade,
o churrasco, o chimarrão...

(Do e-book "Cantigas de Fuga ao Tédio")


Mais trovas do João


Ouvi dizer que feliz
Passas os tempos de agora!
Nos braços de outro sorris
Como sorrias-me outrora.

*
Quem passa a vida a sorrir,
Tem um céu aqui na terra.
No dia que ao Céu subir,
Sabe o caminho, não erra.

*
Rasga os versos que te fiz,
Ou devolve-os por favor.
Fique entre nós que eu te quis,
Que gozei do teu amor.

*
Olhando os céus verde-azuis,
Penso em ti e penso em Deus.
Deus fez o céu de teus olhos,
Ou do céu os olhos teus?

*
Eu vi teus seios de longe,
Que o decote estava aberto.
Não sou podre, não sou monge,
Quis então vê-los de perto.

*
São teus seios duas aves,
Não as queira alguém roubar!
Tranca-as bem, a sete chaves,
Dá-me as chaves pra guardar.

(Do e-book "Safiras e Outros Poemas")







João Justiniano da Fonseca
EM DEFESA DO SONETO


"Sonetos, sim, sonetos. Aí estão estes para
dizer que aprendi com Bilac. E quem lê minha poesia de hoje sabe que teimo no velho estilo bilaquiano do soneto, do qual o modernismo em regra quer a sepultura, mas continua moço e belo como nasceu. Nós envelhecemos, o soneto não. Nós passaremos, não o soneto! 
Por ele vela a eternidade."

(João Justiniano da Fonseca no e-book "Safiras e Outros Poemas")




O SONETO
João Justiniano da Fonseca

É ideal que o soneto tenha rima,
e luz, e métrica, e sonoridade.
É bom que tenha vida de verdade,
solene, o espírito lhe paire acima. 

É indispensável que o soneto exprima
o instante do poeta que o escreve.
Mas, não se obrigue nada, e nem se leve
se martirize o autor enquanto o anima. 

Desde que seja belo em branco e preto,
pode ter solto o verso e ser moderno,
nunca, porém sem música o soneto! 

Seja simples e leve como a ceia
da Páscoa ou do Natal - seja o mais terno,
sem roupagem demais, que isso o enfeia. 



GARIMPAGEM
João Justiniano da Fonseca   
20-02-88 

A métrica, há quem diga, é ultrapassada,
a rima é velha, estúpida, cafona.
Água de poço, quando chega à tona,
eu desconheço que não seja usada. 

Difícil manejar a rima e a espada.
A métrica compor - a prima-dona
da suavidade, que não dá carona
à falta de harmonia na toada. 

E assim, vão tantos atulhando a praça
de água-marinha, quando no garimpo
há diamantes puríssimos, sem jaça.

Só basta que o poeta suba o Olimpo
a alcança-los – se a luz não embaraça
nestes serrados que eu conheço e grimpo.




EXERCÍCIO
João Justiniano da Fonseca  
Em 15-07-84

Para o soneto de escol
com arte de redondilha,
eu quero a rima na trilha
e o canto do rouxinol.

Pego a alvorada que brilha,
junto um pouco de arrebol,
matizes de lua e sol
para pôr na sonetilha.

Talvez a rima embarace
a quem não entende o enlace
da quadra com o terceto.

A mim, não - a rima e a métrica,
a essência do belo - a estética
dão luz e força ao soneto.

(Do e-book "Canto Menor em Redondilha Maior")




O SONETISTA
João Justiniano da Fonseca
Em 24-07-02

O contista esmerilha, tece o conto;
o poeta cinzela o seu poema.
Somente o sonetista colhe a gema
no garimpo mental, voa a Toronto.

Diz-se que o sonetista é um pouco tonto,
que é irreal e tem o seu dilema.
É falso isso; ele imortal e rema
com paletas de luz e pronto. E pronto!

Porque é o artista e mago das estrelas,
busca nos astros a matéria prima
com que o seu verso cuida, e pule, e anima.

Caminha pelo céu nas passarelas
dos deuses. Castanholas, tarantelas.
Na Itália, Nápoles lhe inspira a rima!

(Do e-book "Leveza do Soneto II")




João Justiniano da Fonseca,
                        o soneto e o sonetilho contam os anos...



TRINTA ANOS
João Justiniano da Fonseca

Vamos, vamos sair nesta manhã de outubro
andando por aí, sem pressa e sem cuidados.
É o largo campo aberto, a cabeça descubro,
os cabelos ao sol, poucos, despenteados.

Aqui o rio, além ao longe os descampados,
a terra seca e hostil, o chão poeirento e rubro.
E os meus sonhos voando, os meus sonhos alados!
– O futuro, a ilusão... A paz que redescubro.

Eras grinalda e véu, eras altar e sonho,
um futuro de luz que desejo e suponho,
um canto de esperança, a amiga para o vôo.

Trinta anos no tempo, o amor é inesgotado,
ainda vive a ilusão, o mesmo sonho alado...
Tanto, que ainda agora o velho canto entôo.

(Do e-book "Sonetos de Amor e de Passatempo")




SONETO DOS SESSENTA E UM
João Justiniano da Fonseca

Quero um presente que ninguém me dá,
nem o tempo, nem Deus... Nem a ilusão.
Voltar aos vinte anos, vinte e cinco...
Vamos dizer aos trinta, nem um mais.

Correr, jogar peteca para o alto,
braço estendido e firme, as pernas ágeis,
pular corda, chutar a bola em gol,
trabalhar, produzir, sentir-me útil.

Produzir para o filho e para o neto
(quero que fique o neto, por que não?),
produzir para a pátria e a humanidade.

Viver, meu Deus, cantar, sorrir, viver,
ter oito anos, trinta... Nem um mais!
Ir por aí, desafiando o tempo.

(Do e-book "Sonetos de Amor e de Passatempo")




MOCIDADE
João Justiniano da Fonseca
02.09.89

Chegue aos oitenta à vontade,
lúcido, ativo, sadio,
na força da mocidade
subindo ao longo do rio.

E por que não, Deus Eterno,
a isso não chegaria,
primavera, outono, inverno,
verão – chovendo poesia.

Tua bondade é demais,
e só Tu, Deus, és capaz
de dar-me o que não mereço.

Dá que eu cante a Tua glória
moço aos oitenta, e a História
não perca o meu endereço.

(Do e-book "Sonetos de Amor e Passatempo")




NA RETA FINAL
João Justiniano da Fonseca
20.06.90

Que palavras terei, quando completo
os meus setenta junhos – vida e luz,
a Ti, Deus Criador, que a águia e a inseto
abres espaço para vôo e cruz?

Que palavras a vós, ó gente, ó vida,
ó cidadãos com quem hei convivido?
Agora desço o morro, e, na descida,
que, a mim mesmo direi, do tempo ido?

Terei cumprido, acaso, a minha parte?
E quando errei, quando pisei sem prumo,
e querendo polir, crespei a arte?

Sem única palavra, curvo à idade,
eu me recolho à fé, o nada assumo,
piso sem pressa a rampa da saudade...


II


Piso sem pressa a rampa da saudade
caminhando feliz. Se alguém duvida,
procure usar minha camisa, e há de
ser por igual feliz em toda a vida.

De bom sucesso ao manejar o arado,
compus o livro, tenho filhos, plantas,
e ao fim, me sinto um homem realizado,
possuidor de abrigo, feira e mantas.

Nem mais pretenderia – origem rude,
no meu suor venci. No quanto pude,
planteI minha semente em pleno orvalho...

Bem com a vida, vestindo uma camisa,
deixo aos meus filhos força na divisa
da fortuna firmada no trabalho.

(Do e-book "Sonetos de Amor e de Passatempo")




LONGEVIDADE
João Justiniano da Fonseca
(para Omar Carvalho – 15.11.91)

Meu coração longevo, ainda compassa
como pulsava ontem. Quase como
na adolescência eu meço e peso e somo
as ilusões, o sonho, o viço, a graça.

Tudo o quanto imagine, e pense, e faça,
tem o esplendor do jovem, porque domo
e prendo o tempo, porque lavo e engomo
no árduo labor a mente e em fogo a raça.

Na vontade de ser e no trabalho,
eu me sustento e pairo e me agasalho,
não tenho queixas, não refujo à luta.

Longevo só no aspecto. O rosto marca
o setentão que canta e o tempo abarca
sem mudar de caminho ou de conduta.

(Do e-book "Sonetos de Amor e Passatempo")



REAÇÃO
João Justiniano da Fonseca
20.12.91

Essa velhice horrível, que atormenta,
pondo limite em tudo, marcas, termos,
vai lentamente nos fazendo enfermos
se a fogo não reagimos, a água benta!

Ponho em fervura a água, de cem graus,
agito o corpo, o coração, a mente,
ninguém dirá jamais que estou doente,
espanto a idade a seixos e calhaus.

Meu espírito é forte e tem, e ostenta,
nessa longeva idade dos setenta,
força bastante para bons saraus.

Eu me apresento rijo frente a frente
a quem o seja mais e queira, e intente,
ir da Bahia a pé até Manaus.

(Do e-book "Sonetos de Amor e Passatempo")




RUMO AOS OITENTA
João Justiniano da Fonseca
(para Carvalho Melo – 18.01.92)

Vamos para os oitenta, é isso, é isso,
rindo e cantando como a cachoeira
do rio caudaloso e a feiticeira,
que fica velha sem perder o viço!

Não seria jamais por ser omisso,
que houvera de deixar minha videira
cobrir-se de erva má, de trepadeira
parasitária sobre o compromisso.

Nas horas de esperança e de trabalho
caminho em curvas, mas procuro atalho
para fugir à dor e aos desenganos.

Porque a videira me dá vinho, e o trigo
eu o cultivo na várzea, meu amigo,
conto por certos meus oitenta anos...

(Do e-book "Sonetos de Amor e Passatempo")




SOLIDÃO
João Justiniano da Fonseca
09.08.92

A ventania é forte e a velha porta
vai e vem rangendo, lenta, no portal.
Não range apenas, geme à hora morta
da meia noite ao céu, ao vendaval...

A porta geme, ou o vento? Pouco importa
de onde o gemido rouco, o uivo espectral,
se a dor excita, se o passado exorta
e espanta as andorinhas do beiral...

Um casarão mal assombrado é a idade,
que faz gemer no peito o coração,
ao vento sibilante da saudade...

Ou quem geme será minha ilusão,
desfeita, enfim, na fria realidade
e na suprema dor da solidão?!

(Do e-book "Sonetos de Amor e Passatempo")




SONETO DOS OITENTA
João Justiniano da Fonseca

Não vou fechar o dia sem dizer
que é o meu trinta de junho dos oitenta,
e que o João revive e ainda agüenta
o trompaço do tempo sem gemer.

Não me arrependo do que fiz. Cimenta
meu passado de sonho, o bem querer.
Suei, porém venci. O alvorecer
se foi nublado, a tarde o claro inventa.

Se o fruto do pomar está maduro,
nas flores do jardim, o aroma é puro,
creio que posso ainda ter meus planos.
Assim, quero pensar no que há de vir,

supor que recomeço e o meu porvir
oferece seguro, mais dez anos...

(Do e-book "Sonetos")




SONETO DOS OITENTA E CINCO
João Justiniano da Fonseca

O tempo me acompanha a oitenta e cinco anos,
passo a passo, hora a hora e minuto a minuto.
A cada instante diz e a cada instante escuto:
- tem cuidado João, nos projetos, nos planos!

Na vida, pensa bem, há traições e enganos,
há encanto vasto. O mundo é imensamente bruto.
Teu ideal não venha a te cobrir de luto,
no excesso do querer - de mágoas, desenganos!

Vai devagar e sempre, anda apalpando a vida...
A vida, o tempo. Em frente, em frente, não recua!
Pisa firme e trabalha, ergue a cabeça e lida.

Nunca sê orgulhoso. Entanto, não te curve
a prepotência, o medo. E, resistente, estua
de brio ante o vilão que ao mais humilde acurve!

(Do e-book "Sonetos")




PARA SER LONGEVO
João Justiniano da Fonseca

Levanta a cabeça e segue
olhando firme na frente.
Não ha bicho que te pegue
se tens firmeza de mente.

Não digas que te fraqueja
a resistência na luta.
Maior que seja peleja
jamais penses na cicuta.

Nunca olhes para traz,
olha a frente, sê capaz
de pensar que o mal passou.

Com certeza hás de chegar
aos oitenta sem cansar
igual assim como estou.

(Do e-book "Sonetos")




SONETO DO MENINO
João Justiniano da Fonseca
SSA, 14-06-07

Passou o tempo? Como, que eu não vi?
por que espaço foi-se, por que greta,
escorregou tão lento da gaveta,
e eu, cochilando, não o percebi?

Oitenta e sete anos? E eu vivi
tudo isso assim, cantando uma opereta,
no decorrer do tempo, em branca e preta
contagem sucessiva, que não vi?

É verdade... Por que não fiquei velho?
Por que o menino vive ainda em mim,
escorregando como o escaravelho?

Foi ontem, Senhor Deus, eu na fazenda,
cabra, cabrito, boi e vaca, a moenda,
o engenho... É! sou um menino velho!

(Do e-book "A Vida do Poeta - Sonetos")





Por enquanto, este é o último e-book do João...





NOVENTA
João Justiniano da Fonseca
24-04-2010

Chego aos noventa bem, e eis, que a chegada,
É de mansa maré, sem desespero.
Se não foi bom de sal o meu tempero,
O insosso sustentou a caminhada.

São Pedro vem comigo, e, na escalada,
Regula o tempo e segue, anda ligeiro.
De pau o espeto em casa de ferreiro,
A brasa vem dos céus na madrugada...

A féria chega bem ao pão e ao vinho,
Camisa de algodão, calças de linho,
A manta do agasalho, a luz do abrigo

Se não ganhei medalhas na subida,
Lavrei meu solo, trabalhei a vida...
Passageiro do eterno ao tempo sigo.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




CAMINHADA DO TEMPO
João Justiniano da Fonseca
   19-06-2010, seis da manhã.

Idade dos noventa. Aqui do alto
Faço um apelo ao sonho, à fantasia:
Não me deixe jamais, eu tornaria,
Ao insignificante e triste asfalto.

Para chegar aqui, de salto em salto,
Medindo passos e horas, noite e dia,
A fé me conduziu e mais, diria,
A vontade de ser hino em contralto.

Não me arrependo do que fiz. Se errei,
É que o destino humano marca a lei
Do reto e o torto, alvorada a alvorada. 

Resta levar o tempo que me sobra,
Seguindo firme, refazendo a obra
Que produzi durante a caminhada.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




SAUDADES
João Justiniano da Fonseca
     8-09-2010

Se mais te leio, no ensejo,
Mais se me arraiga a saudade.
Faz-se em mim eternidade
O tempo que não te vejo.

Toca ao longe um realejo,
Vem-me ao ouvido e invade
Meu sentimento. Em verdade,
Solfeja no meu desejo!

Quero te ver e não posso,
Pois tu nos criaste um fosso
Profundo no coração.

E quero dizer-te adeus,
Falta coragem, os teus
Olhos azuis dizem não.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




QUANDO AMOR CRIA RAIZ
João Justiniano da Fonseca
18.09.2910

Parece que fui feliz
Desenvolvendo a expressão:
- Quando o amor cria raiz
Gera flor no coração.

Se gera a flor, nasce o fruto,
Que amadurece em sazão!
Como que amada, te escuto:
- Recebo tua canção!

- O tempo, o tempo, João,
Põe no eterno o que me diz,
O teu amor, como não!

Quando ao eterno chegares,
Verás no éter, nos ares,
Comigo teu coração.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




SAL DA FANTASIA
João Justiniano da Fonseca  
08.08.2011

Era um pouco de ti plantado em mim,
Muito de mim também em ti plantado.
Tu não pensavas e eu pensei assim
Até que se quebrou nosso encantado.

Foste-te embora e um final ruim
Plantou-se no meu peito amargurado.
Caí em pranto.  O que será de mim
Sem ti, sem teu amor. Triste o meu fado!

A lei da vida me ensinou que o mundo
Jamais se acaba. E o tempo é tão fecundo
Que morto um, o outro está em via.

Dei a volta por cima, e tudo bem!
Aprendi que ninguém é de ninguém,
E que o amor é o sal da fantasia!

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




SONETO DO VELHINHO 
João Justiniano da Fonseca   
15-08.2011.

Querida amiga, eu fiquei velhinho,
E tão velhinho que não presto mais.
Foram-se o sonho, o amor e os cabedais.
Do que mais gosto só ficou o vinho!

A cada dia mais pequenininho
A cada instante entre gemidos e ais.
Mais desencanto, menos luz e paz,
E menos algodão, e menos linho.

É muito bom viver, mas causa um medo!
A solidão travanca e acorda cedo,
E lentamente arrasta-me o chinelo.

Está à minha mesa e em minha cama,
Tristonha e impaciente me reclama,
Tremo de medo ao me espiar no espelho.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




VISÃO MALDITA
João Justiniano da Fonseca

Dei-lhe afeto de pai, e dei de amante,
Todo o carinho que se oferta a amada.
A luz da fé, o brilho da alvorada...
Chamei-a Beatriz e fui seu Dante!

E íamos sorrindo. O caminhante
Que via-nos a andar nossa estirada,
Ria conosco e a gente, admirada,
Dizia – amai! Amai e ide adiante.

Eu quem era? De fato, ela quem era?
- Uma ilusão que não media a era,
- Uma pingente que buscava apoio.

A fé é santa e não enxerga o mal.
Eu confiava. Aberto o vendaval,
Aí vejo o lodo. O lodo indo em arroio.



II

Eu a chamei Beatriz ou a chamei de Mai?
Eu fui seu Dante ou fui mais simples, seu João?
Só sei que inteira a pus no ameno coração,
Desejo retira-la e ela daí não sai.

As fotos eu rompi, a imagem! Lancei fora
Tudo que seu estava em meu computador.
Mas a lembrança fica intacta, e, com horror,
Vejo que se converte em monstro e me devora.

Ela me disse ao ver a cena - do teu peito
Não vais me retirar assim e desse jeito.
As raízes que deixo estão plantadas fundo!

Maldição, maldição – ao inferno, gritei,
Tua lembrança, o nome, tudo que te dei.
Retira-te maldita e vai! Sai de meu mundo!

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




NAVEGANDO 
João Justiniano da Fonseca  
17-09-09

A vida vem caminhando,
Pacientemente comigo
Em lago manso, sol brando,
Trabalho, lazer, abrigo.

Não pego carreira quando
Alguém, quem for, seja amigo
Ou estranho, desafiando,
Tente insuflar-me. Nem ligo!

Aqui agora, na idade,
A ser sincero, em verdade,
A vida é lenta, sem ego.

Bebo uma taça de vinho
Bebo uísque, e de mansinho,
Navego sempre, navego...

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




QUANDO FALAR DE AMOR 
João Justiniano da Fonseca  
20-11-09

No teu falar de amor, um pouco de pimenta,
Não deixa de inserir, poeta, bem de leve.
Não te excedas na dose. A gente quando escreve
De amor, tem fina a pena e tinta de água benta.

A amada, por favor, atenta a mil, atenta,
Quer de certo a expressão iluminada e breve,
Que alcance o coração e a alma. Mas, se atreve,
A desejar calor mais forte e mais pimenta!

De fato. O bom tempero é sempre variado.
O paladar pretende, exige o aglomerado
De alho, pimenta e sal, um pouco gengibre.

Daí, porque o poeta há de ofertar no amor,
Ao falar ou escrever, ao comungar  — não dor,
O homem, sim, na expressão que mais o afirme e vibre.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




MANHÃ DE DOMINGO 
João Justiniano da Fonseca  
29-11-09

Quente manhã de sol em dia de domingo,
Pleno verão. Novembro expira e vem, de leve,
Em canto de Natal, dezembro. E põe e escreve,
Uma ária de sonho e luz, no ar em respingo.

Bendigo esta manhã de sol, na qual, me vingo,
Da minha solidão estúpida e sem greve.
No vôo do zero nove ao dez em breve, em breve,
Coroam-se os noventa em mim. Eu já os distingo.

Tem sido bom amigo o tempo, não queixo,
De mal que me fizesse, e, para frente, deixo,
Que ao seu sabor conduza o barco a alguma praia.

Quando chegar-me, em fim, a derradeira hora,
Tanja o sino da aldeia em mina terra, e a aurora,
Renasça-me em criança a empinar arraia...

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




LEGENDA 
 João Justiniano da Fonseca
19-12-09

Quero ser terno e puro no poema,
E ter a linha reta. Curva zero.
Busco o simples no texto, o mais severo,
Que semelhe na pureza a gema.

Esta mão seja leve e eu não tema
No instante de compor o que bem quero,
Á hora de trinar igual ao mero,
Ou de acender a luz, marcar o trema.

Que mais desejo eu? Chegando ao fim,
Quero soltas aos ventos minhas cinzas,
Voltar à eternidade de onde vim...

Tudo esquecido seja. Meu labor,
Bem feitos e mal feitos, tudo cinzas,
Fique a legenda: – “a fé e a paz, o amor”!

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




APENAS UM SONETO 
João Justiniano da Fonseca
07-01-10

Eu quero um mar de rosas no teu colo.
Vermelhas, brancas, rosas, multicor.
Risos e festas para o nosso amor,
Você Diana, eu amoroso Apolo.

Acácias no jardim, música em solo.
O simples voejar do beija flor.
Luz, sempre mais luz, mais luz... Calor!
Eu, cabeça pousada no teu colo.

Nós dois, você menina, eu infante,
A vida um riso. E sempre mais galante,
Aponto a estrela: – Há de enfeitar teu leito.

 — Não meu, mas nosso, dizes. Rico enfeite!
O tempo foi-se, e, para teu deleite,
Não pude a estrela. Apenas um soneto.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade") 




AS FLORES ESTÃO VOLTANDO?
João Justiniano da Fonseca   
12.09.2010 

As flores estão voltando,
Mês de setembro, é verdade...
Os jovens estão amando, E eu o quê?
 – Vivo saudade...Abre-se o sol.
Manso, brando, 
Desponta a felicidade...
O tempo roda cantando,
E eu conto o tempo e a idade...
É setembro, a primavera
Vem logo mais, nem se espera,
Brotam flores nos rosais...
E eu aqui, Deus louvado,
Sozinho, desconsolado,
Esperando o quê? Que mais?


II

Conto o tempo como o tempo
Conto a vida indefinido...
É um contar dolorido
Porque se conta em destempo...

Meu mundo passou... Perempto
Deixou o ontem vencido.
O amanhã? Não tem sentido
O meu amanhã de tempo...
Quem fecha, gente, os noventa,
Aguenta mais e ainda aguenta,
A sorrir, nunca a chorar!
O consolo, a mim, por Deus,
É este poema que os meus
Noventa sabem cantar...


III

Adeus, adeus ilusões,
Se eu, setembros vir a mais,
Não os verão meus cabedais
De sonhos e comunhões...
Vê-los-ão em lampiões
E doridos castiçais,
Meu passado, o nunca mais,
De quem cria, sensações...
A idade longa é mentira,
Fantasia a que se aspira
Só para contar o tempo...
Canta João, tua lira,
Sustenta a triste mentira
De ser mentira de tempo.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")




É TEMPO AINDA
João Justiniano da Fonseca

É tempo ainda de viver, de rir, sonhar.
Tempo de trabalhar, de utilizar a vida
no mais simples e nobre, e, sem abrir ferida,
ter cheio o coração de afeto e ainda amar!

Sem medo de dizer, sem esconder o rosto,
ser o mesmo João, apaixonado, ardente,
tendo em conta que o hoje é o hoje, o sim presente,
e só parar de ser, à hora do sol posto...

Depois então, depois do pôr do sol, o adeus...
A presença a São Pedro. Eis que o Senhor é Deus
de judeu, muçulmano e cristão - do vivente.

Sem mágoa, queixa e dó. Sem medo, sem resquício
de temor ao que vem no fim... Sem precipício
de face erguida entrar no céu: - João, presente.

(Do e-book "Vida, Amor e Longevidade")








O blogue Expressão Mulher-EM lhe pergunta: quem é o  poeta João Justiniano da Fonseca?

João responde:"Sou apenas João, um velhinho que gosta de falar e escrever como menino."

(João Justiniano da Fonseca, 03-04-2014)






JOÃO JUSTINIANO DA FONSECA
BIOGRAFIA


É poeta e ficcionista, com incursões na historiografia e na biografia. Nasceu em Rodelas, Estado da Bahia, a 30 de junho de 1920, filho de Manoel Justiniano da Fonseca e Eufrosina Maria de Almeida.
Servidor Público, João Justiniano da Fonseca tem um longo percurso de trabalho. Serviu ao Exército Nacional entre 1940 e 1944, tendo aí realizado o curso de formação de graduados – sargento. Preparou-se para a vida por via de cursos intensivos, para realizar concursos públicos. Nesses cursos estudou, além da matéria de conhecimentos gerais, matemática, contabilidade geral e pública, geografia, voltada especialmente para informações sobre portos marítimos e fluviais, direito tributário, direito administrativo, direito comercial, direito civil e direito penal na área de crimes contra a administração pública. Tem aprovação nos concursos públicos então realizados pelos extintos - Departamento Administrativo do Serviço Público (DASP) e Departamento Estadual de Serviço Público (DSP\BA), para Escrivão de Coletoria Estadual (Bahia) Fiscal de Rendas do Estado (Bahia), Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo, cargos reestruturados com denominação outra.

Exerceu, por concurso público, os cargos de Auxiliar de Coletoria Federal, Escrivão de Coletoria Federal e Agente Fiscal do Imposto de Consumo, correspondente, na atual nomenclatura, a Auditor Fiscal da Receita Federal. Em comissão, passou pelos cargos de Inspetor de Coletorias Federais, Fiscal do Selo nas Operações Bancárias, Inspetor Fiscal do Imposto de Consumo e Inspetor Fiscal de Rendas Internas na área federal; Assessor Técnico de Planejamento na área estadual (Bahia) e Diretor Administrativo Financeiro da extinta COHAB/SALVADOR, na área municipal.

Aposentou-se como Auditor Fiscal da Receita Federal com redução de tempo de serviço, como participante de operações bélicas. Nomeado posteriormente para o cargo vitalício de Conselheiro do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado da Bahia, renunciou à aposentadoria federal para exercer o novo cargo, no qual veio a aposentar-se em 1990, encerrando, então, sua carreira no serviço público. Exerceu, ainda, o mandato eletivo de Prefeito de sua terra natal no período 1967/1971 e posteriormente o mandato de vereador.




Os Livros e os E-books do João
Todo o acervo literário de João Justiniano da Fonseca pode ser encontrado em:

http://joaojustinianofonseca.blogspot.com.br
(ACERVO)



"Já não tenho palavras de apresentar meus pobres livros. Ando por todos os caminhos. Olho à frente e aos lados. Nada descubro no meu trabalho escrito mais do que eu próprio no ver e sentir, no viver, nas fantasias, nos sonhos e até na idealização. Em poesia especialmente, sobretudo nos sonetos sou repetidamente o meu eu. Nada mais a dizer. Aqui estou de alma e coração para os poucos que me lêem no hoje. Aos da posteridade se algo permanecer não será mais que algum soneto das centenas que deixo. 
Não me leiam apenas, vejam-me no que escrevo."

                (João Justiniano da Fonseca no E-book "A Vida do Poeta - Sonetos")





Atualizando os números, o poeta João Justiniano da Fonseca completará 94 anos de idade no próximo 30 de junho.
Sua obra gira em torno de 16 livros impressos e 35 livros eletrônicos (e-books).
O e-mail do poeta é: joaojustinianodafonseca@gmail.com



Rio de Janeiro, 22 de maio de 2014.






A ARTE de João Justiniano da Fonseca apresentada no blogue Expressão Mulher-EM baseou-se
nos seguintes e-books:
























AGRADECIMENTOS



BENDIGO
15-05-2014
Para EXPRESSÃO MULHER-EM

Eu bendigo os meus tempos de rapaz,
Bendigo os dias de ancião menino.
Embora hoje tão só, tão pequenino,
Refaço o esforço e ainda sou capaz.

Pretendo trabalhar como se faz
Contando os passos como um bailarino!
Guardo por confortar-me, o velho sino
Que badalou as bodas de meus pais.

E badalou também quando eu nasci.
O tempo passa rápido, não o vejo,
Pois penso no trabalho que vivi.

Quero morrer meu povo ouvindo o sino
Como se ouvisse o som de um realejo,
Qual a mim badalou quando menino. 

(Enviado ao EM em 22-05-2014)

Muito obrigado, João, o EM lhe diz com Respeito, 
Admiração e Carinho.



 O Blogue Expressão Mulher-EM agradece a dois importantes espaços culturais da internet, os quais abarcam praticamente toda a obra de João Justiniano da Fonseca. Sem esses espaços, não teria sido possível apresentar aos Amigos e Leitores a inteireza e a dignidade da obra desse escritor e poeta. 
Esses valiosos espaços são:

- A Casa do Mago das Letras (Livros Eletrônicos), de Lourivaldo Perez Baçan / Brasil

- Biblioteca Virtual "Cá estamos Nós", de Carlos Leite Ribeiro / Portugal








Rio de Janeiro/RJ, 22 de maio de 2014.

Um comentário:

  1. Ah, Poeta João Justiniano da Fonseca! Quanto disseram ao meu coração os teus versos! Teu linguajar simples mas refinado, em poemas onde tão bem descreves o velho Chico que conheci na minha infância como o rio da Unidade Nacional ( conforme citas), na exuberância de Paulo Afonso da qual, hoje, nem se fala, bem como a doçura com que dizes dos teus amores, dos teus tempos, da tua maneira de enxergar a vida
    e do teu jeito espontâneo de compor encantam a qualquer um que tenha oportunidade de ler os teus trabalhos. E muitos te lerão e te verão no que escreves. Meus aplausos! Cleide Canton

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