ÂNGELA EVELINE (Brasil)























Alegre Coração
Ângela Eveline

O meu alegre coração descrente
não tem uma atitude irrefletida.
Esquece e passa. Vive, simplesmente,
na sua torre de marfim perdida.

Se a réplica ferina do insolente
fá-lo sofrer no turbilhão da vida,
sorri e, em seu sorriso indiferente,
transforma num escárnio a dor sentida.

O mundo é vão. Se nele alcança a glória
o adulador servil da nobre escória
que pela insídia reina soberana,

o meu alegre coração bem sabe
que reis, truões, mendigos, tudo cabe
na pequenez da sepultura humana.

Amar
Ângela Eveline 

Nas suaves cores da inocente face
eu amo a vida alegre que floresce!
E mais feliz seria se findasse
a íntima dor de tudo que padece.

Eu amo o ser que luta pela messe
sem que jamais sua fé ele negasse!
E imploro à Divindade em cada prece
que o mundo tenha a paz por santo enlace.

Desejo amar, amar perenemente
todo infeliz e todo penitente,
amenizando a dor do sofredor.

Eu quero amar à luz do claro dia,
lutar pelo reinado da harmonia
e não sentir vergonha desse amor.

Compasso da Vida                       
Ângela Eveline 

As horas correndo
e os filhos crescendo,
                    crescendo pro mundo...
Faz dia, faz noite.
O tempo é um açoite
                   que fere tão fundo...

Relógio batendo,
o sino tangendo
                   no mesmo compasso.
O dia começa,
a vida tem pressa
                    e esqueço o cansaço.

Lá fora a batalha.
Não pode haver falha,
              há que se vencer.
Cá dentro a rotina,
o tédio domina
             e mata o prazer.

As horas correndo
e os filhos crescendo,
                   crescendo pro mundo...
Miséria, aflição,
vileza, ambição.
                   Que charco este mundo!

Meu Deus, que agonia!
A vida é tão fria
          que traz a incerteza.
Não vou desistir,
o bem há de vir
          e dele a certeza.

Talvez, algum dia,
retorne a alegria
            e o medo se acabe.
Justiça, bondade,
amor, caridade, 
           um dia, quem sabe?...

Duas Almas
Ângela Eveline 

Quisera amenizar-te os desalentos
no cárcere onde a vida nos tortura.
Debalde sonho... Um dia os sofrimentos
hão de levar-te à porta a desventura.

Quisera dar-te cálidos momentos
de paz e amor, de sonho e de ternura
e, sob a luz de novos pensamentos,
fazer de cada mágoa uma ventura.

Mas como sofres, sofro suplicante
e olhando, humilde, o azul do céu distante
sonho existir um mundo mais bendito

e penso ver nas noites estreladas
as nossas duas almas abraçadas
nos siderais espaços do Infinito...

Eterno Gracejar
Ângela Eveline 

A dor, em seu eterno gracejar,
deixou-me a gargalhada pelo pranto.
Por isso não te iludas, pois do canto
fiz outro modo alegre de chorar.

Quando não pude as dores suavizar,
fiz do sorriso um íntimo acalanto
e agora, num contraste sacrossanto,
sorrio não podendo soluçar.

Na lágrima escondida na risada,
sinto a grotesca e humana mascarada
que espera flores cultivando abrolhos.

Não chores nunca e esquece o pessimismo
que o mais sublime e humano vandalismo
é gargalhar com lágrimas nos olhos.

Flor do Amor
Ângela Eveline 

Eu sou a flor proibida
do amor eterno, grande, pleno, lindo.
A flor de luz que o sonho vai abrindo,
flor das delícias do prazer nascida.

Eu sou a flor proibida,
a flor carmim de uma paixão ardente
que anseia receber a seiva quente,
em êxtase total embevecida.

Eu sou a flor proibida
de pétalas macias, veludosas,
de formas sedutoras misteriosas,
de delicada graça indefinida.

Eu sou a flor proibida
de desejar amar um ser somente
e de entregar-me a ele totalmente
para florir liberta pela vida.

Eu sou a proibida flor do amor...

Matéria
Ângela Eveline 

Matéria! Escrava eterna da agonia,
fugaz como uma sombra refletida...
És transitória e em breve apodrecida
desaparecerás na tumba fria.

Tens o prazer de amar em demasia
e ver da natureza colorida
a flor, a luz, o céu, o mar, a vida.
Mas certamente chegará teu dia.

O Eterno deu-te um sonho doloroso
para que sintas o estertor do gozo
que das entranhas do teu seio medra.

E a tua face esfíngica, marmórea,
deixa transparecer a tua história
no teu olhar estático de pedra.


Sinfonia de Doçuras
Ângela Eveline 

Oh!... Seu pudesse em harmonias puras
dizer-te o que minha alma anda sonhando;
se em claros sons vibrando de venturas
tudo eu pudesse te dizer compondo; 

se em puros sons falasse das ternuras
que há muito tempo na alma estou guardando;
se numa sinfonia de doçuras
eu te dissesse quanto estou amando... 

A música seria o amor vivido,
seria luz... a luz dos céus, querido,
que traz aos mundos o esplendor do dia... 

seria um canto... um canto tão divino
que cada som vibrando cristalino
era um pedaço da alma em harmonia...

Soluças, Mar?
Ângela Eveline 

Mar que soluças preso nas voragens,
mar descontente, eterno condenado
aos ímpetos dos ventos mais selvagens,
em cárceres terrenos algemado... 

Teu grito, ó mar, clamor desesperado,
leva o indiferentismo das aragens,
depois se desvanece abandonado
nos âmagos sombrios das paisagens. 

Vives assim, em ânsias, como vivo,
revolto em lutas a gemer cativo
na imensa vastidão das tuas plagas. 

Soluças, mar? Debalde tu soluças
porque nas praias onde te debruças
ninguém entende o soluçar das vagas.

                                                    
Um Poeta
Ângela Eveline

Sentir na imensidão do azul imaculado
todo frescor da aurora e a tarde em esplendor,
sentir-se divagar pelo céu constelado,
banhando-se ao luar de místico palor...

Ouvir do mar sereno o coração velado
nas ondas a pulsar... E ouvir da rósea flor
a voz do seu perfume etéreo e delicado
e a tudo dedicar um verdadeiro amor...

Amar! Amar da vida as imortais venturas
e em sonho refulgir como astro nas alturas,
querendo florir como florem as alfombras

e apenas ser poeta enaltecendo em vida
esta longínqua perfeição inatingida 
e despertar a sós num pantanal em sombras.


Cálida Bonança
Ângela Eveline

Amando espero... Pouco mais existe
nas areias silentes do deserto;
pela aridez desse caminho incerto
creio que tudo só no amor consiste. 

Porque do amor o  santo pálio aberto
é abençoado oásis para o triste
e sei que nada mais no mundo existe
que nos console sempre tão de perto. 

O tempo tudo mata e tudo esquece...
Mas meu sonho de amor vive e floresce
e a vida desse sonho se alimenta 

porque o amor é cálida bonança
que torna os dias plenos de esperança,
aliviando um pouco esta tormenta.


Cárcere da vida
Ângela Eveline 

De que vale partir se nas entranhas
levas os germes de inefáveis dores?
Se a vida sob o céu de outras montanhas
é a mesma serpe que se oculta em flores? 

De que vale partir como os condores
para fugir das desumanas sanhas,
se para a mágoa, a dor dos sofredores,
jamais existirão terras estranhas?

O que me punge sempre é ter sentido
que tudo, em toda parte, tem sofrido
os grilhões do infortúnio indiferente.

E o que é mais vil? É o cárcere da vida
e a dor em nosso peito reprimida
que faz de pedra o coração da gente.

4 comentários:

  1. belos versos da poetisa Ângela Eveline
    meu aplauso
    geórgia

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  2. Caríssima poetisa Angela Eveline. Estive aqui no Blog “Expressão Mulher” e visitei a sua linda página. Parabéns pelas lindas obras que você oferece aos leitores internautas sedentos de boas leituras. Um forte abraço -Sardenberg

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  3. Humberto Rodrigues Neto4 de set. de 2012, 19:24:00

    Minha cara Ângela Eveline: Sensacionais os teus poemas! Perfeitos na métrica, no compasso, na cadência e, sobretudo, no conteúdo! Só a inclusão do teu nome no Expressão Mulher-EM, já indica o cuidado com que são escolhidos os poetas convidados a participar de nossa comunidade. Aplaudo de pé a beleza do que escreves e sinto-me feliz com tua admissão!

    Humberto-Poeta

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  4. Amigos, irmãos poetas, é com indizível alegria que recebo seus comentários carinhosos. Orgulho-me de participar de tão seleta comunidade. A vocês a minha gratidão. Abraços, Ângela Eveline B. M. Santos.

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