ANNA MÜLLER (Brasil)


Sou Mulher I
Anna Müller

Sou mulher sim,
senhora de um homem só.
Não desafio ninguém, mas a vida em mim.
Não sou rainha, mas tenho o meu rei.
Ele me trata como donzela,
o dono que sempre esperei.
O meu homem me cobre de amor
nas noites em que o frio quer açoitar,
Usa o corpo por meu cobertor,
e a minha vontade sabe esperar.
Claro;
Sou mulher,
Gosto de como ele chega faceiro,
trazendo presentes de todos os tipos...
flores, bilhetes de amor e até brigadeiro;
me abraça por trás, sentindo meu cheiro,
me carrega nos braços,
me enche de abraços
me beija na boca com tanta vontade
que tira-me o fôlego... e da realidade.
Mas é claro;
Sou Mulher,
Que lhe enche de amor
na hora do banho de espuma;
que prepara o jantar,
que adoça a boca;
não sou qualquer uma...
é claro;
Sou Mulher,
A pegá-lo na mão, levá-lo p'ra cama
fazer daquele corpo o meu corrimão.
O faço gemer e dizer que me ama
tiro-lhe o fôlego em plena exaustão.
Por que?
Sou Mulher,
Aquela que o espera todos os dias,
que não é submissa, mas sabe entregar-se;
sou dama da corte, até baronesa,
rainha, escrava, sou cama e mesa.
Porque sou Mulher,
sou dele como nasci: nua
nos desejos e no sossego;
nas dores, ele tem minhas lágrimas,
nas alegrias também, de felicidade;
sou aquela que veio tornar os sonhos
a mais doce realidade.
Sou de todas elas a prometida
que suportou calada o destino
para tê-lo por inteiro nesta vida.
Sou aquela semente que tanto cultivou
para que a flor pudesse possuir.
Sou pétala a pétala aquela que desejou,
para tornar-me hoje no que sou...
senhora de um homem só...


Sou Mulher II
Anna Müller

Da fragilidade a fortaleza.
Sou assim,
Feita de sonhos,
de alquimia,
de contos de fadas.

Sou assim,
Frágil como a areia
levada ao mar,
espalhada,
perdida.

Sou assim,
Folha de 3 estações,
vivendo em duas,
secando,
caindo,
morrendo no chão.

Sou assim,
fortaleza de barro
trincando,
rachando,
desmoronando.

Sou assim,
fraca, forte,
romântica, deprimida,
guerreira, vencida.

Sou pó, sou pedra,
sou amor, sou dissabor,
sou sonho sem realidade,
sou medo, sou silêncio,
sou o inverso do universo.

Sou pouco, meio muito.
Sou loucura e desventura.

Sou só isso.
Nada além, sou Mulher.
Mulher...


À Deriva
Anna Müller

À deriva, no mar de mim, 
brinco com as ondas 
que se formam à minha frente. 
Seguro estrelas do mar 
em minhas mãos e tento 
descobrir para que lado 
se encontra o Norte...

A bússola desnorteada,
rasga o oceano neste
buscar insólito...
Perco-me a
olhar o horizonte.

Jogam-me as ondas
da incerteza
para todo lado.
A cada olhar...
Choro...por não encontrar
o cais do meu sossego...
o porto do meu destino.


Versos Loucos
Anna Müller

Que esta loucura, sim, de te amar não feneça;
Já não mais suporto esta angústia tão sofrida,
latejante em dor, o coração arrefeça,
banhando a triste alma com lágrima dorida.

Que esta tortura não dilacere o meu pensar;
Onde me perco por caminhos em tropeço,
viajante de um tempo frio sem nunca cansar,
buscando em ti, mais uma vez o recomeço.

Retomo agora este caminho inacabado;
Na incerteza de chegar onde eu espero,
e em meus sonhos...um desejo realizado,
de sentir teu corpo que tanto venero.

Teus doces lábios com os meus poder beijar;
guardar na boca o adocicar que tanto quero,
e nesta loucura dos meus versos te encontrar,
porque sem ti, eu endoideço e desespero.


Tudo-te
Anna Müller

Dizer de mim sem ter você
de não ser mulher inteira
é olhar o que não se vê
é andar na cordilheira.

Sem você meu dia é nublado
um sol afoito, recolhido
verão de frio disfarçado
inverno de calor escondido.

Sem você o ar que respiro
é rarefeito, empoeirado
dói mais que levar um tiro
e sentir meu eu aniquilado.

Sem você é fruta p'la metade
é um doce que falta melado
é sentir o peso da idade
nos ombros o fardo pesado.

Sem você é sentir a saudade
quando a ausência é tão distante
é chorar a falsa realidade
de te sonhar a todo instante.

Sem você é ter a alma inquieta
é ter o coração partido ao meio
é não sentir a vida completa
é ver que todo o belo é feio.

Sem você eu já não sei viver
se perguntares o quanto amo-te
quero apenas te fazer saber
eu não te amo... eu tudo-te.


Um Dia Só!
Anna Müller

Um dia só...
Apenas um dia, só meu.
Viver o meu apogeu...
Poder olhar dos lados
sem sentimentos julgados.

Um dia inteiro...
Sem vozes a rodear,
sem pc, sem celular...
Sem o grito da vizinha
nem o cão que apurrinha.

Um dia sequer...
Numa ilha deserta
sem relógio de hora certa,
nem atrasado, nem quebrado...
Só o céu e o chão...
Sem nada, sem multidão;
eu, só eu e eu mesma...
Andando por aí...A esmo.

Um dia só...
Poder fechar a cortina
desse palco que ilumina
essa vida meramente banal;
num espaço intemporal...
Com mentiras, falsidade
enganando a realidade
que a maioria abomina.

Um dia apenas...
P'ra eu gritar as minhas dores,
sentir o cheiro das flores,
rir à toa e chorar por nada,
andar e andar pela madrugada.
Deitar exausta no chão...
Olhar em volta a escuridão.

E no silêncio que se faz,
deixar minh'alma em paz;
criar asas...Sair voando
pelos ares e mares navegando
sem saber onde aportar!
Nem sequer dele acordar.

Um dia...
É só o que eu queria...


Fases do Tempo
Anna Müller

Por toda uma vida!
Como passa o tempo;
e o tempo passa como o vento,
às vezes lento,
outras, como relâmpago.
Às vezes, tirado proveito,
outras, totalmente ignorado.
Tempo pensado,
tempo estudado,
tempo guardado,
deixado de lado,
esquecido, perdido.
O começo de tudo,
de planos, sonhos,
objetivos, esperança,
de correr atrás.

Passou!

Tempo do recomeçar!
Insistir nos planos,
nos sonhos e objetivos,
a esperança ainda persiste,
ainda há tempo de correr atrás.

Passou!

Pouco mudou, o tempo passou;
a vida ficou,
algo... acabou.

Tempo do pensar!
O que houve de errado,
caminhos cruzados, bloqueados,
parece tudo acabado.
Parte de tudo desmoronou,
partiu em pedaços,
os planos...inacabados,
os sonhos...distantes,
os objetivos...rasgados,
a esperança...

Tempo de parar!
Cansaço bate à porta,
frustração adentra o leito,
dores adentram a alma,
e o tempo...
o tempo sorri...esgotado!


O Tempo e o Vento
Anna Müller

Quando o tempo me leva para frente
Quando o vento me joga para trás
Me despedaço aos poucos sem perceber
... cacos dos meus sentimentos
... fragmentos da minha carne
... grãos de minha pele

misturam-se em meio a terra
e folhas mortas que o tempo matou
mortas e secas que o vento não levou
uma mistura de mim que não germinou

O tempo que não acaba
o vento que não cessa
pedaços perdidos
no tempo
pedaços jogados
ao vento
pedaços enterrados
no esquecimento
no tempo
soprado
no vento


Ecos do Silêncio
Anna Müller

Nos penhascos obscuros da solidão
eles fortificam os meus temores.
Os ecos sombrios, sonora decepção,
de Minh‘alma fenecendo em dores.

Toda a multidão evadiu-se do mundo,
não resta mais nada nem nada resta.
O silêncio agora tornou-se profundo;
é ele agora quem comanda a festa.

Ele brinda a vitória dos meus medos,
vinga a felicidade um dia sentida,
desvendou um a um os meus segredos,
por suas garras afiadas fui possuída.

Sufoco-me tentando chorar e gritar
mas o silêncio ecoa feito maldição.
O que resta de mim, ele quer alcançar,
massacrar, sem sentir dó nem compaixão.

Nem os cânticos dos deuses o afetam...
Ecos malditos que me invadiram.
Nem na morte dessa carne se aquietam.
É que a vida dessa alma destruíram.

Pulo na escuridão do teu abismo,
ecos e mais ecos do silêncio a gritar.
E de repente sinto um leve sismo,
o pesadelo quebra-se para o despertar.

O corpo meio febril, transpirado,
salta imediato sobre o leito...
Suspiro... e olho para o lado.
Um forte aperto no peito
e a sensação de um eco cansado.


Testamento
Anna Müller

No fim dos meus dias, deixo aqui firmado
que nada tenho; mas pretendo levar comigo
apenas o espírito, que por Deus me foi dado
p'ra aprender a ser humana num mundo mendigo.

Não fui santa, nem prostituta, fui mulher...
Nasci da cumplicidade e amor de um casal
e não de uma relação amorosa qualquer,
nem por acaso...num momento intemporal.

Aprendi sobre o respeito e dignidade
sob rédeas duras de forte educação;
quis realizar o sonho em realidade...
Que para eles era apenas ilusão.

Havia o veto de expressar minha vontade,
então, surgiram versos dentro d'alma...
Foram-se formando poesias em verdade,
que mantinham em mim a vida mais calma.

Quantos anos se passaram desde então,
dentre eles, tanta dor e alegria...
Muitos deles simplesmente foram em vão,
outros tantos fui feliz e não sabia.

Contudo, aprendi que não interessa
o quão sincera seja a nossa intenção;
a vida nessa terra sempre atravessa
outras vidas, vazias de compreensão.

Não tenho a quem legar o que aprendi;
levo então, comigo, minha reles experiência
de tudo que por bem ou mal eu vivi...
E em meus versos decretei falência.


3 comentários:

  1. Parabéns, poeta Anna Müller, pelo seu ingresso no EM com o carinho de uma sala requintada e colorida. Gostei muito do seu poema "O tempo e o Vento". Há poetas que mergulham na melancolia, mas nem todos com o mel que sua poesia produz.
    Grande abraço,
    Raquel Nonatto

    ResponderExcluir
  2. Meu abraço, Anns Müller, pelos belos versos publicados nesta casa maravilhosa que é o Expressão Mulher e que demonstram a batalhadora que você é. Não se preocupe.Você nos lega muito. Beijos.

    ResponderExcluir
  3. FELICITACIONES, HERMOSOS POEMAS, GRANDE ANNA. BENDICIONES
    TU AMIGA MARIA CRISTINA

    ResponderExcluir

Web Statistics