* HELENA KOLODY







Sonhar
Helena Kolody

Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.

Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.

É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.

Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.



Espelhismo
Helena Kolody

Olhou numa poça d'água
e viu a mão estendida.
Alongou a própria destra,
num impulso de acolhida
Mas, a mão tocou em nada
Era, apenas, refletida
no espelho da água parada,
a sua mão estendida.



Pânico
Helena Kolody

Não há mais lugar no mundo.
Não há mais lugar.

Aranhas do medo
fiam ciladas no escuro

Nos longes, pesam tormentas.
Rolam soturnos ribombos.

Súbito,
precipita-se nos desfiladeiros
a vida em pânico.



Exilados
Helena Kolody

Ensimesmados,
olham a vida
como exilados
fitando o mar.

Não estão no mundo
como quem o habita.
Estão de visita
num planeta estranho.



Exilados
Helena Kolody

Suporta o peso do mundo.
E resiste.

Protesta na praça.
Contesta.
Explode em aplausos.

Escreve recados
nos muros do tempo.
E assina.

Compete
no jogo incerto da vida.
Existe.



Grafite
Helena Kolody

Meu nome,
desenho a giz
no muro de tempo.

Choveu,
sumiu.



Ilhas
Helena Kolody

Somos ilhas no mar desconhecido.
O grande mar nos une e nos separa.
Fala de longe o aceno leve das palmeiras.
Mensagens se alongam nas líquidas veredas.

Cada penhasco é tão sozinho e diferente!
Ninguém consegue partilhar a solidão.

Ilhas no grande mar, aprisionadas.
Apenas o perfil das outras ilhas, vemos.

Só Deus conhece nossa exata dimensão.

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